sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Cheias de Charme sai de cena como um marco na Teledramaturgia

Chega ao fim nesta sexta-feira, 28, a novela que mostrou a todos - críticos, público e emissoras - que ainda é possível ir contra a maré de share baixo e audiência em queda que assombra a TV aberta nos últimos anos. Com a assinatura dos novatos Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, Cheias de Charme sai de cena não apenas para ser lembrada como uma boa obra, mas para tornar-se um marco na história da teledramaturgia nacional.

Uma crítica é pouco para expressar tudo que o folhetim das 19 Horas representou para as telenovelas do país, mas vamos tentar resumir. O primeiro ponto alto trata-se, obviamente, da renovação de autores que a Rede Globo necessitava há tempos. Sempre com os mesmos novelistas por décadas, a emissora vislumbro a necessidade de renovação por conta da idade avançada de seus profissionais e, claro, porque com os mesmos roteiristas, havia sempre a repetição de estilo. E Filipe Miguez e Izabel de Oliveira não decepcionaram, logo em seu primeiro trabalho a dupla mostrou do que é capaz.

Um segundo ponto de análise e vital para lembrança futura foi a coragem do roteiro e a capacidade de produção que coloca Cheias de Charme como a primeira trama da TV brasileira a usar todos os benefícios que a interatividade entre TV, público e Internet poderia proporcionar. A ideia de vazar o clipe Vida de Empreguete na internet antes de levá-lo ao ar num capítulo foi muito boa e executada com cuidado e de forma correta. A internet, aliás, sempre serviu como braço da obra e conseguiu ser muito bem aceita pelo telespectador, pois transmitiu verossimilhança necessária para que, quem assiste em casa, comprasse a ideia.

O tema desta novela já era inovador. Transformar três empregadas domésticas em protagonistas de novela foi muito corajoso, pois isso ainda é tabu na TV brasileiras. Mais coragem ainda foi produzir uma trama musical num horário delicado. O horário das 19 Horas sofre com fracassos retumbantes - o mais recente foi Tempos Modernos - que tentaram inovar a linguagem ou o jeito de se produzir. Os próprios autores consideram este o pior horário, pois ninguém sabe ao certo o tipo de público que está diante da TV. Mas a dupla de autores mostraram que a receita do sucesso é simples: uma trama interessante, popular e de qualidade sempre vai atrair o público.

Mais do que moderna, mais do que ousada, Cheias de Charme foi uma ótima produção. O maior acerto da emissora no horário das 19 Horas neste milênio. A repercussão que a novela conquistou longe da TV foi algo sem precedentes, com as músicas das personagens ultrapassando a barreira da ficção e ganhando vida em festas, baladas e afins, além da trama tornar-se assunto constante em rodas de discussão. É muito difícil mensurar o tamanho do sucesso do folhetim no país todo, pois a repercussão foi sem precedente, mas o sucesso dos números é a comprovação de que o público brasileiro abraçou a história das empreguetes (a novela sai do ar com incríveis 34 pontos de média no PNT, maior audiência desde Cobras e Lagartos, quando a contagem era diferente).

O que falar do roteiro? Excepcional. Uma novela razoavelmente curta que permitiu com que os autores brincassem e divertissem o público com histórias interessantes, rápidas e muito bem construídas, sem deixar barriga. A direção acertada pelas mãos de Denise Saraceni também contribuiu e muito para o sucesso, pois ela soube enxergar as cores e os tons corretos que o texto pedia. Um elenco praticamente impecável que soube como poucos interpretar e dar vida às personagens criadas. Destaque para Cláudia Abreu e Taís Araújo que desempenharam os melhores papéis de suas carreiras.

É indiscutível que Cheias de Charme foi um sucesso retumbante - a trama fecha com 30 pontos de média em SP, sofrendo uma pequena queda por conta da mudança de horário no período de Horário Eleitoral - a discussão, talvez, seja outra. Novelas com menor repercussão e menor sucesso - Caras e Bocas é o exemplo mais recente - foram esticadas pela emissora que viram a possibilidade de manter uma audiência estável no horário e está claro que as Empreguetes poderiam ficar mais tempo no ar. Os motivos que levaram a Rede Globo a decidir não esticar Cheias de Charme é um mistério e, certamente, motivo de tristeza para os fãs de teledramaturgia. A novela vai deixar saudades. E muita.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

The Voice Brasil acerta e faz bela estreia

Depois de muitos anos sem se aventurar pelo terreno dos Realities musicais - após a exibição discreta do Fama - a Rede Globo voltou a apostar neste tipo de filão que arrebata milhões de fãs nos EUA e ao redor do mundo com a estreia da versão brasileira do mais recente sucesso neste formato: The Voice.

Os fãs do Reality americano estavam ansiosos e ao mesmo tempo temerosos com a estreia, uma vez que a experiência com as adaptações brasileiras do formato não tem sido das mais felizes - American Idol viu seu formato destruído pela Rede Record com a exibição do Ídolos. Porém, bastou a apresentação dos técnicos e a abertura para ficar claro que a Globo investia alto na produção e a ideia era levar ao ar um programa de altíssima qualidade, quando comparado a outros do mesmo estilo no país.

Ao contrário da concorrência, a direção do programa, sob os cuidados de Boninho, investiu exclusivamente nos candidatos de qualidade, eliminando as bizarrices que o brasileiro está acostumado a ver em Realities. É bem verdade que o formato do The Voice é assim em praticamente todos os lugares, portanto, não chegou a ser uma grande surpresa esta decisão, porém, como a TV brasileira sempre investe no diferente e estranho, havia expectativas sobre essa decisão.

O alto nível dos concorrentes foi o que chamou a atenção num primeiro momento. A pré-seleção certamente foi bastante rígida, pois apenas candidatos de muita qualidade subiram ao palco do programa para se apresentarem para os técnicos. Isso é uma demonstração clara de que a disputa será acirrada e de que, ao menos musicalmente, pode-se esperar um grande programa.

A edição também merece elogios. Com cortes de câmera interessantes e sem tempo para muito rodeio, o telespectador teve a chance de ver um programa leve e muito ágil, graças ao trabalho dos editores que separaram um ótimo material para levar ao ar. Com direção firme e edição de qualidade, ficou claro que, tecnicamente, a estreia foi bem acima do esperado.

O cenário foi um dos poucos senões desta estreia. Tímido e muito pequeno, acabou dando a impressão que todos - técnicos, concorrentes e públicos - estavam encolhidos para caber naquele espaço que acabava por se parecer com um cubículo. Por conta do espaço, provavelmente, a presença do público acabou sendo bastante discreta e incomodou em alguns momentos, pois não parecia uma apresentação ao vivo com presença de plateia.

Os técnicos, por sua vez, chamaram a atenção por tentar demonstrar tranquilidade e estarem à vontade no formato. Lulu Santos e Carlinhos Brown se esforçaram para demonstrar técnica na avaliação dos candidatos  e conseguiram apresentar muito conhecido, porém, em alguns momentos, as análises ficaram modorrentas. Daniel, num esforço hercúleo para ser leve e divertido, acabou fazendo piadas sem graça e se tornando o jurado mais deslocado. O grande destaque, contudo, foi Cláudia Leitte. Extremamente à vontade, a cantora fez caras e bocas durante as apresentações e comentários hilários, além de praticamente implorar para candidatos fazerem parte de seu time.

O grande equívoco dos técnicos, talvez, tenham sido os comentários dos reprovados - e também dos aprovados. A preocupação em elogiar todos para que ninguém desanimasse incomodou bastante, pois faltou o tom ácido que este tipo de formato tanto agrada. Talvez por ser a estreia ninguém se sentiu seguro para fazer críticas mais duras, esperemos os próximos programas.

Tiago Leifert enquanto apresentador surpreendeu bastante. Ao mostrar que fez o dever de casa, o jornalista optou por um caminho discreto, bem diferente do que o telespectador se acostumou a ver quando ele apresentava o Globo Esporte e o Central da Copa. Com poucas falas, entrevistas rápidas e perguntas diretas, ele não teve grande destaque, mas soube tornar-se praticamente invisível, deixando com que os candidatos e os técnicos brilhassem. Difícil dizer se o caminho da discrição seja o melhor para ele, num primeiro momento surtiu efeito, mas é preciso aguardar as outras fases.

A estreia do The Voice Brasil surpreendeu pela qualidade técnica e, mesmo apresentando alto nível de seus concorrentes, serviu para divertir em muitos momentos. A Globo acertou em cheio nesta estreia e a expectativa agora é que a produção mantenha a qualidade e vá deixando todos os envolvidos cada vez mais à vontade nos próximos programas.

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