segunda-feira, 29 de julho de 2013

Novos Rumos, novos tempos e um até breve

Em Abril de 2009 comecei este projeto. São 04 anos de muitos textos - alguns mais polêmicos que outros - e de muito crescimento. Quando comecei, tudo não passava de um hobby. Queria poder escrever sobre tudo que aprendi assistindo e estudando sobre TV e teledramaturgia e percebi que o melhor caminho era um blog - afinal, a internet é o grande booom do milênio, ne? - mas nem nos meus melhores sonhos imaginei a proporção que isso teria.

Em 04 anos, tive o prazer de debater temas importantes e acompanhar, com um olhar que foi ficando cada vez mais crítico e afiado - obras importantes de nossa teledramaturgia (Avenida Brasil, olá!) e mudanças importantes na grade da TV aberta (o troca-troca de Eliana e Gugu e a saída do próprio Gugu do ar depois de anos). Nem sempre os leitores concordaram com minha visão crítica e fui acusado de tudo (fãs da Record diziam que eu era apaixonado pela Globo, fãs da Globo diziam que eu perseguia a emissora, e assim por diante), mas ainda bem que todos liam os textos.

Neste tempo tive o prazer de criar o Troféu TVxTV que acabou pro repercutir muito mais que o esperado, tendo grande participação dos internautas e também reunindo uma galera interessante e que entende de TV - embora não trabalhe totalmente no ramo - para votações. Momentos interessantes e que deram grande alegria a este blogueiro.

Também é inegável o quanto cresci na internet graças a este espaço. Conheci pessoas novas, abri novos caminhos e tive oportunidades de coberturas de eventos das próprios emissoras. Escrevi - por conta deste blog - a outros veículos que também contribuíram muito para minha formação de crítico e me ajudaram a produzir e veicular meus textos de forma cada vez mais impessoal e mais profissional. O olhar crítico foi ficando mais apurado na medida em que novos textos eram produzidos e assistir TV tornou-se quase um trabalho, além de um grande prazer.

Mas tudo nesta vida muda. Nunca tive a intenção de ser crítico de TV ou de teledramaturgia - embora seja assim que muita gente chega a mim e me conhece - e não é esta marca que quero para minha vida. Graças a este blog e também a estas críticas tive a oportunidade de conhecer novas pessoas e de me preparar melhor para aquilo que acredito ser a minha praia. 

Desde o início de 2013 venho levando o TVxTV como dá, tentando a todo custo produzir textos e atualizá-lo, mas tornou-se completamente inviável. O tempo de minha vida é outro, preciso utilizar este momento para me dedicar em aprender e profissionalizar naquilo que realmente quero e, por isso, é tempo de despedida. Depois de 04 anos, encerro este blog para me dedicar a outros projetos - que espero que logo se realizem e tornem-se públicos - mas o carinho pelos textos, pelas polêmicas e, principalmente, pelos amigos conquistados, jamais irá embora.

Agradeço a todos que diariamente marcaram presença aqui e também aos que, além de ler, dedicaram seu tempo para comentar. Tenham certeza que li cada comentário e fiquei bastante satisfeito, mesmo quando pontos de vistas divergiam. Este não é um adeus, pois vamos nos reencontrar em breve, em outros lugares. É só um, até breve.

PS: Aos que quiserem me acompanhar, haverá sempre opiniões sobre o que acontece na TV em meu twitter e em meu perfil no facebook

terça-feira, 16 de julho de 2013

Amor à Vida é um retrocesso para a teledramaturgia nacional

O Brasil vem avançando em diversos segmentos quando o assunto é teledramaturgia. Obras importantes entraram no ar nos últimos anos e se tornaram fundamentais para dar um guinada ao modelo de produção dramática para a TV brasileiro. Tanto na TV aberta quanto na TV fechada, o avanço é nítido e salutar para o fortalecimento da marca. Infelizmente a atual novela das 21 Horas, Amor à Vida, representa um retrocesso para as telenovelas brasileiras.

Fosse exibida no final dos anos 80, talvez seria uma trama envolvente e bem avaliada, mas ela está, pelo menos 25 anos atrasada. O modelo adotado por seu autor, Walcyr Carrasco, reúne todos os recursos e saídas adotadas por outros folhetins e que foram sendo abandonados ao longo do tempo. Há quem possa considerar isso um sinal positivo, de retomada de um formato abandonado, ocorre que este formato foi deixado de lado justamente por outros foram surgindo, inovando e deixando muitos desses recursos - senão todos - com cheiro de mofo e pouco cultural.

Quando uma criança pede uma leitura para seu pai, evidente que se ele ler Machado de Assis a criança não compreenderá praticamente nada, pois o texto é muito complexo para quem ainda está construindo valores culturais. Por isso, o público brasileiro foi mastigando textos menos complexos ao longo da história das telenovelas e elas foram fundamentais para fortalecer o estilo no país. Mas atualmente, estamos diante de um público mais maduro - ou que deveria ser - já acostumado a trabalhos menos óbvios e com linhas sensíveis e fugindo do caminho fácil.

O Brasil avançou muito nos folhetins nos últimos tempos. Mesmo no horário das 21 Horas, o público já acompanhou histórias de clonagem (O Clone), tramas policiais intrincadas e complexas (Belíssima), além de textos rebuscados e com diversas camadas (Avenida Brasil). Sentar-se diante da TV para acompanhar texto com saídas óbvias e recursos utilizados nos primórdios da telenovela torna-se um tédio e é prejudicial para o público e para a marca.

O tom de dramalhão incontido, os diálogos infantiloides - que acompanham o autor por praticamente todos os seus trabalhos - e a constante sensação de estarmos numa eterna barriga tornam Amor à Vida uma novela sem charme e que não acrescenta nada. Nem para quem assiste, nem para quem produz, tornando-se um equívoco e um retrocesso.

Se há algum ponto positivo na trama, trata-se de sua direção caprichada. Mauro Mendonça Filho bebeu da fonte de trabalhos mais recentes, tanto em takes, como na fotografia, e mostrou-se antenado quanto aos avanços que o país conquistou. O elenco também, firme e muito bem em cena, é um ponto alto, mesmo diante de um texto rocambolesco e que não produz nenhum tipo de sensação.

Amor à Vida tem uma boa história, mas infelizmente contada a moda antiga e que não consegue ser nostálgica. A saída para um texto que bebe da fonte dos anos 80 e parece parada no tempo seria justamente a nostalgia, mas nem isso ela consegue. Um retrocesso. Apenas isso.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Estreia de Chiquititas aponta para grande avanço do SBT

Após arriscar-se com o remake de Carrossel - que o tempo mostrou ser um acerto - o SBT estreou na noite desta segunda-feira, 15, um projeto ainda mais audacioso: o remake de Chiquititas. Produzir um remake de uma obra que tornou-se cult no imaginário da atual geração de adultos e contribuiu para a formação de praticamente toda uma geração de crianças e adolescentes era um risco sem precedentes. Em termos de fenômeno de mídia era impossível comparar Carrossel com Chiquititas, a segunda fez parte da vida de todo um grupo de pessoas.

O risco era grande, pois além de tudo, trata-se de uma novela mais adolescente e, portanto, poderia perder o público que a emissora ganhou com a exibição de Carrossel por mais de um ano. Os nostálgicos poderiam comparar e não gostar da nova versão e, o pior, os novos adolescentes poderiam odiar todo o clima de inocência e pureza da história. Um mar de riscos. Mas, ao menos na estreia, tudo deu certo.

O grande acerto de Íris Abravanel - responsável pelo roteiro nesta adaptação foi entender que não era necessário arriscar. Pequenos retoques no texto original, trazendo-os para os dias de hoje, foram suficientes. Todas as personagens que marcaram a adolescência dos anos 90 estavam la: Mili, Mosca, Pata, Bia e tantos outros. O texto não se arriscou e mostrou-se burocrático, um grande acerto para um trabalho assim tão ousado.

O elenco também mostrou outro acerto desta estreia. As crianças que, em praticamente todas as aparições de divulgação na grade do SBT, pareciam não ter carisma, ledo engano. Todas elas encorporaram suas personagens e conseguiram o mais importante: transmitir a doçura que o projeto Chiquititas exige. O elenco adulto também fez bonito e merece destaque, parece que vai dar liga.

O ponto alto da noite, contudo, não foi nada disso. O maior mérito é da direção. A compreensão de que trata-se de um projeto juvenil e não infantil foi fundamental para essa estreia ser considerada um acerto, mas a direção foi além e soube construir elementos para manter o público infantil. Pequenas doses de infantilidade num ambiente juvenil foi o tempero correto que a produção precisava para o sucesso. É preciso parabenizar ainda a produção pela competência e avanço. O novo projeto avançou muito no quesito fotografia e direção se comparada a Carrossel. Além de tudo, a abertura é linda e o clipe exibido foi de uma qualidade que impressionou.

Impossível apostar em sucesso ou fracasso, mas a tirar pela estreia, Chiquititas já é um sucesso. Conseguiu, no mínimo, deixar adultos completamente nostálgicos e com olhos brilhantes diante da TV enquanto relembravam momentos únicos. Mais do que isso, essa estreia serve para mostrar que o SBT avança na produção de teledramaturgia.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Qual o público de Malhação?

Entra ano e sai ano e muitas são as novidades que a TV aberta oferece para os telespectadores. Apostas de diversos tipos que as emissoras tentam para melhorar sua audiência, sejam em novelas, programas ou séries. Na grade de programação, o que parece imutável - no que concerne a teledramaturgia - é Malhação. A novelinha teen da Rede Globo enfrentou todo tipo de crise, mas segue inabalável já entrando em sua 21ª temporada - um recorde absoluto.

Quando a trama entrou no ar, a proposta divulgada era clara: uma novela que apostasse no público teen - adolescentes e jovens - com temporadas de aproximadamente um ano e modificando todo seu elenco a partir da temporada seguinte. Por muitos anos, o produto viveu tempos áureos, levando ao ar temporadas incríveis e conseguindo produzir identificação no adolescente brasileiro, mesmo enfrentando dificuldades, como a Classificação Indicativa e o pragmatismo do telespectador.

Foram discussões importantes para o universo teen, como doenças sexualmente transmissíveis, bullying, a difícil relação entre pais e filhos, os dramas e medos do ano de Vestibular, adolescentes que precisam ser adultos e muitos outros temas de suma importância. Mesmo com todas as dificuldades que a TV aberta enfrenta para tratar temas delicados, a novelinha sempre encontrou saídas interessantes que chamavam a atenção do telespectador e davam ótimos resultados.

É evidente que em 20 temporadas completas, torna-se impossível acertar em todas e equívocos acontecem em praticamente todos os projetos longos. O problema se dá quando determinado produto se mostra desgastado e não há como enxergar uma saída viável. Este parece ser o caso de Malhação que sofre de um desgaste que impressiona.

Não se discute se vale a pena ou não manter o produto no ar, pois ele é muito importante para a emissora, pois investe em novos rostos, novos diretores e profissionais da área. Funciona como uma ótima oficina prática e isso não pode ser deixado de lado. Diversos talentos nasceram ali e isso deve ser levado em consideração numa análise mais ampla.

Ainda assim, é preciso parar e fazer uma reflexão sobre o andamento do roteiro dessa novela. Não apenas a temporada atual - que está apenas iniciando, portanto a avaliação ainda é prematura - mas as anteriores também parecem ter perdido o foco. Faz algum tempo que Malhação não consegue cumprir seu objetivo de atingir o público teen simplesmente porque seu roteiro parece não ser desenvolvido para esta faia etária. Ainda que os temas continuem sendo deste universo, as situações e, principalmente, os diálogos estão longe da realidade teen, muito longe.

Todo o trabalho de pesquisa parece ser ignorado nos últimos anos e, mesmo quando a proposta da temporada é interessante e o texto bacana, o que se vê no vídeo é um produto que não cumpre seu objetivo de chamar a atenção de adolescentes e jovens. Quem tem essa idade certamente não se sente espelhado quando assiste ao show e, provavelmente, este seja o principal motivo da queda brusca de audiência temporada após temporada.

Séries teen já conseguiram ler a alma desta faixa de público nos últimos anos. É o caso da sensacional Skins, série britânica que faz uma leitura impressionante de adolescentes, que deveria servir de espelho para qualquer produção mundial quando o assunto é jovem. É evidente que num país como o Brasil não se pode exibir algo tão ousado, mas Malhação já conseguiu fazer leituras - ainda que superficiais - dos adolescentes brasileiros, mas perdeu a mão faz tempo. É preciso encontrar o caminho ou pensar em outra proposta.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Brasil ainda engatinha quando o assunto é séries

É fato que o Brasil é um dos países - senão o maior - que melhor produz telenovelas em todo o mundo. Nossos folhetins são comprados por centenas de países e milhões de pessoas admiram o trabalho de composição deste formato com linguagem própria, indo ao ar diariamente e com toda uma estilística definida. Em compensação, enquanto o mundo avança em produções de qualidade quando o assunto é séries, o Brasil parece não conseguir deixar de engatinhar.

Os motivos são os mais variados, vai da falta de investimento até a pouca experiência. Para alguns especialistas, este cenário deve mudar nos próximos anos graças a Lei de Cota de Produção Nacional da TV fechada. A Lei obriga todos os canais de TV a cabo a levar ao ar um número de horas específicas de produção nacional e isso tem feito o mercado se movimentar, já levando ao ar alguns produtos, mesmo em 2013 quando a Lei está em momento de adequação.

É evidente que, quanto mais se produz, maiores são as chances de conseguirmos assistir séries de qualidade. Como o país ainda engatinha neste formato, é bastante lógico entender que não há como se exigir produtos muito rebuscados, mas é preciso ter senso crítico para tentar enxergar o que pode ou não ir ao ar, no momento em que se avalia determinado roteiro. A justificativa de que, como é o início, toda tentativa é válida soa muito pobre, pois é possível apostar em roteiros com um mínimo de qualidade.

Arriscar-se no drama talvez seja o mote ideal para o momento. O Brasil passou décadas investindo exclusivamente no humor - tanto na TV aberta quanto no Cinema - e conseguiu avançar. Haja visto que os últimos anos apresentaram produções interessantes neste formato, como as excelentes Louco por Elas e Pé na Cova. Essas duas são representações de que o país consegue ir além do humor fácil e simplório que fomos acostumados por muitos anos.

Mas a TV a Cabo ainda derrapa. Tanto no drama quanto na comédia, percebe-se uma clara boa vontade e intenção de acertar, mas os erros tornam-se cada vez mais evidentes conforme a grade de programação começa a ceder espaço para séries nacionais. Diante de um ou outro acerto, o que se vê é uma sucessão de erros que não demonstram apenas falta de experiência, mas o equívoco de imaginar que um produto pode sobreviver apenas com o nome de alguém envolvido.

No drama, as emissoras fechadas vem fazendo algumas tentativas válidas de se produzir algo realente interessante. É o caso de Três Terezas e Sessão de Terapia, ambas da GNT - emissora que mais tem investido até este momento - que conseguem sair do óbvio e, embora ainda cometam deslizes, demonstram estar no caminho certo. Em compensação, também há equívocos, como o caso da fraquíssima Copa Hotel que não disse a que veio ou de Contos de Edgar, uma tentativa insana com roteiro pífio.

A estreia desta segunda-feira, 08, Vai que Cola, do canal Multishow, segue este caminho, mas na comédia. Um produto que certamente exigiu algum investimento financeiro importante por parte da emissora, mas que parece não ter passado por qualquer avaliação prévia de seu roteiro antes de ir para o ar. A impressão que se teve é que todos confiaram no talento de Paulo Gustavo e não fizeram uma avaliação mais apurada do que estavam produzindo e o resultado foi catastrófico.

É impensável que, enquanto a TV aberta já consegue levar ao ar produções de humor do nível de Pé na Cova, a TV Fechada apresente uma série que regrida tanto em qualidade. Com piadas de sentido sexual, e sempre buscando a saída fácil, o roteiro foi extremamente pobre e não explorou os caminhos que a comédia deve explorar. Não houve qualquer sutileza, seja nos diálogos superficiais e caricatos, ou na interpretação de um elenco que, sobretudo, não percebeu que teatro é teatro e TV é TV. Com muita gritaria, o resultado não tinha como agradar. Embora com momentos - raros - de lucidez, a série não parece ser a luz que a teledramaturgia busca na comédia. Está longe disso.

Estamos diante de um momento fundamental para nossa teledramaturgia, pois muitas séries começarão a ser produzidas nos próximos anos. É preciso um olhar mais atento para que consigamos levar ao ar algo de real qualidade e manter a excelência que nos acostumamos com as novelas. Pelos primeiros resultados, não parece uma tarefa fácil

domingo, 7 de julho de 2013

Uma boa sinopse não é sinal de um bom produto

O primeiro passo para se saber se estamos ou não diante de um bom produto é sua sinopse. É bem verdade que o grande público não tem acesso a uma sinopse completa - seja de novela ou de série - mas ainda assim é possível arriscar-se baseado nas informações que são divulgadas sobre determinada história antes de sua estreia. Este pode ser um caminho perigoso, uma vez que nem sempre a sinopse seja um indicativo verdadeiro sobre o que entrará no ar. Ainda assim, quase sempre é simples saber se estamos ou não diante de uma boa história.

Criar uma boa história é muito difícil. Mais difícil ainda é saber desenvolvê-la com a mesma sagacidade. Quando um autor imagina toda a construção de determinada história em sua mente e resume-a em seu computador, costurando assim a sinopse, pode-se estar diante de uma ideia brilhante. Daí a conseguir desenvolver com a mesma competência, há uma enorme diferença. É surpreendente assistir uma simples história sendo contada de forma competente, mas é frustrante acompanhaá-la enquanto se perde dia após dia.

Existe uma diferença grande entre pensar na história como um todo e colocá-la em prática diariamente - ou semanalmente, no caso de séries - os obstáculos começam a aparecer somente na construção do roteiro diário e é nele que os obstáculos vão aparecendo e, com eles, os atalhos extremamente perigosos que quase sempre culminam no enrosco de um bom projeto. Nem todo autor tem a mesma competência para desenhar um roteiro diário quanto tem para criar as linhas gerais e, quando ele não se atenta a isso, cercando-se de uma equipe competente, os resultados normalmente são desastrosos.

Não basta para um bom produto apresentar histórias e situações ousadas. É preciso contá-las de forma pertinente e crível, fugindo de atalhos quase sempre prejudiciais. Insensato Coração mostrou-se uma novela problemática justamente por equívocos de desenvolvimento. Sua história - muito interessante - foi contada com freio de mão puxado dando um tom de um prólogo eterno para sua primeira metade. 100 capítulos que poderiam ser contados em 40, no máximo e isso acabou por atrapalhar o desenvolvimento saudável da vingança de Norma (Glória Pires).

Balancear o desenvolvimento de uma história não é fácil. Na atualidade quem mostra-se mais competente nisso é João Emanuel Carneiro que consegue fugir das famosas barrigas - período em que não acontece nada nas novelas - criando diversos momentos importantes em suas tramas. Desenvolver uma boa história no timing correto quase sempre resulta em sucesso, vide Avenida Brasil.

A atual novela das 21 Horas, Amor À Vida, é um prato cheio para esta análise. Estreante no horário, Walcyr Carrasco não se fez de rogado e levou para a TV diversos temas polêmicos e pertinentes. Autismo, doença terminal e um vilão gay são três dos muitos temas tratados na novela. Ao se pensar exclusivamente nos temas e no desenho geral da novela parecia claro: estávamos diante de uma grande obra televisiva.

Não é o que acontece na prática. Embora tenha ousado em criar todas essas histórias, o autor se perde ao tentar desenvolvê-las, principalmente porque oferece ao telespectador um texto raso, com situações que não são aproveitadas ao máximo e diálogos didáticos que atrapalham o ritmo da história. Com isso, um folhetim que poderia ser dos mais interessantes, torna-se apenas chato e um desperdício.

Achar o ponto correto para transformar uma boa sinopse em um bom produto não é tarefa fácil. Principalmente se pensarmos que uma novela fica no ar cerca de 07 meses, é uma tarefa hercúlea conduzir esta história diariamente. Mas se o autor se propôs a fazer isso, cabe a ele encontrar instrumentos para conseguir, ou então, o resultado não agrada.

sábado, 6 de julho de 2013

Realismo Fantástico precisa seguir lógica em sua mitologia

O Brasil sempre apostou em Realismo Fantástico para fazer sucesso em suas obras de teledramaturgia. O público brasileiro comprou a ideia e transformou em fenômenos de audiências novelas que apresentavam personagens desse estilo. De obras trashes, como Vamp, até mais sutis, como Sexo dos Anjos, o fato é que a história da teledramaturgia nacional é repleta de exemplos bem sucedidos de formatos assim e que arrebataram o grande público.

É bem verdade que nos últimos anos este formato foi deixado de lado na telenovelas nacionais. Sob o argumento que o telespectador procura tramas mais realistas, pois quer se ver espelhado no que assiste, a estilística foi mudando e o lugar-comum ganhou um espaço maior.  A última lembrança de realismo fantástico na TV brasileira talvez seja na bem-sucedida, porém abortada, série A Cura de João Emanuel Carneiro e a novela O Astro, remake adaptado por Alcides Nogueira, que culiminou com um Emmy Internacional.

Um ponto fundamental para se produzir uma história com realismo fantástico é sua mitologia. Ao contrário do que se pode pensar, criar personagens com poderes ou com características além das do ser humano, não significa necessariamente que este personagem pode fazer tudo. É preciso construir uma história lógica, ou seja, a mitologia, para que quem assiste saiba exatamente o que o personagem pode ou não pode fazer. O maior exemplo contemporâneo disso seja, talvez, a série americana Supernatural que sabe explorar muito bem os elementos sobrenaturais, mas construiu uma mitologia sólida e que o público volta e meia é convidado a lembrar-se, com sequências desde a primeira temporada. Os personagens não fazem atualmente o que, no início, não podiam fazer, é a figura mitológica que dá verossimilhança para quem vê.

Quando o produto não consegue transmitir essa verossimilhança e sua mitologia é um samba-do-crioulo-doido, tudo se desfaz. O que foi criado para atrair acaba irritando, porque o fantástico deixa de o ser e se torna frustrante e com dezenas de erros apontados. Outra série americana serve de exemplo para esta máxima, trata-se de Heroes, um produto que começou com força e cheia de elementos que chamaram a atenção e se perdeu porque não soube construir uma mitologia lógica e, mesmo quando construiu, a destruiu para tentar contar a história.

Se a justificativa do autor é a de que "é realismo fantástico" para que seu personagem possa fazer tudo, já podemos saber que se trata de uma saída preguiçosa. Esse formato só funciona se for muito bem trabalhado para que o telespectador possa comprar os absurdos - para o plano da realidade - como algo verdadeiro dentro daquele contexto, daí a importância de regras básicas muito bem delineadas.

Em Saramandaia este problema acontece. Numa sequência interessante exibida na última sexta-feira, vimos o personagem de João Gibão (Sérgio Guizé) - que prevê o futuro - tendo uma visão de que Vitória Vilar (Lília Cabral) levaria um tiro. A partir daí ele e Zélia Vilar (Leandra Leal) saem numa busca desenfreada por Vitória a fim de evitar que a visão se consuma. Perfeita a sequência que serviu para construir planos de ação para o capítulo e chamar a atenção do público.

Porém, o dom de Gibão não obedece a nenhuma regra. A mitologia é furada e funciona a bel prazer do autor, mostrando-se equivocada. No primeiro capítulo vimos que o personagem teve uma visão da cidade de Bole-Bole mudando seu nome para Saramandaia e até agora isso não aconteceu. Num capítulo desta semana, novamente ele teve uma visão, desta vez com Dona Rdonda (Vera Holtz) explodindo - a visão já havia acontecido em outra ocasião. Esta visão especificamente também poderia ser atribuída a bomba que explodiu no final do capítulo desta sexta-feira. Não importa. O fato é que, em determinado momento, a visão de Gibão indica algo que vai acontecer em instantes e em determinados momentos algo que vai acontecer sabe-se lá quando. Como o personagem sabe distinguir o que vai acontecer no momento e o que não vai?

Construir uma história de realismo fantástico sem se apoiar numa mitologia quase conservadora para evitar furos é o melhor caminho. De nada adianta impressionar o público com personagens fascinantes e mágicos se a história segue exclusivamente uma única regra: a da saída fácil e preguiçosa.

Twitter Facebook Adicionar aos Favoritos Mais

 
Tecnologia do Blogger | por João Pedro Ferreira