terça-feira, 9 de julho de 2013

Qual o público de Malhação?

Entra ano e sai ano e muitas são as novidades que a TV aberta oferece para os telespectadores. Apostas de diversos tipos que as emissoras tentam para melhorar sua audiência, sejam em novelas, programas ou séries. Na grade de programação, o que parece imutável - no que concerne a teledramaturgia - é Malhação. A novelinha teen da Rede Globo enfrentou todo tipo de crise, mas segue inabalável já entrando em sua 21ª temporada - um recorde absoluto.

Quando a trama entrou no ar, a proposta divulgada era clara: uma novela que apostasse no público teen - adolescentes e jovens - com temporadas de aproximadamente um ano e modificando todo seu elenco a partir da temporada seguinte. Por muitos anos, o produto viveu tempos áureos, levando ao ar temporadas incríveis e conseguindo produzir identificação no adolescente brasileiro, mesmo enfrentando dificuldades, como a Classificação Indicativa e o pragmatismo do telespectador.

Foram discussões importantes para o universo teen, como doenças sexualmente transmissíveis, bullying, a difícil relação entre pais e filhos, os dramas e medos do ano de Vestibular, adolescentes que precisam ser adultos e muitos outros temas de suma importância. Mesmo com todas as dificuldades que a TV aberta enfrenta para tratar temas delicados, a novelinha sempre encontrou saídas interessantes que chamavam a atenção do telespectador e davam ótimos resultados.

É evidente que em 20 temporadas completas, torna-se impossível acertar em todas e equívocos acontecem em praticamente todos os projetos longos. O problema se dá quando determinado produto se mostra desgastado e não há como enxergar uma saída viável. Este parece ser o caso de Malhação que sofre de um desgaste que impressiona.

Não se discute se vale a pena ou não manter o produto no ar, pois ele é muito importante para a emissora, pois investe em novos rostos, novos diretores e profissionais da área. Funciona como uma ótima oficina prática e isso não pode ser deixado de lado. Diversos talentos nasceram ali e isso deve ser levado em consideração numa análise mais ampla.

Ainda assim, é preciso parar e fazer uma reflexão sobre o andamento do roteiro dessa novela. Não apenas a temporada atual - que está apenas iniciando, portanto a avaliação ainda é prematura - mas as anteriores também parecem ter perdido o foco. Faz algum tempo que Malhação não consegue cumprir seu objetivo de atingir o público teen simplesmente porque seu roteiro parece não ser desenvolvido para esta faia etária. Ainda que os temas continuem sendo deste universo, as situações e, principalmente, os diálogos estão longe da realidade teen, muito longe.

Todo o trabalho de pesquisa parece ser ignorado nos últimos anos e, mesmo quando a proposta da temporada é interessante e o texto bacana, o que se vê no vídeo é um produto que não cumpre seu objetivo de chamar a atenção de adolescentes e jovens. Quem tem essa idade certamente não se sente espelhado quando assiste ao show e, provavelmente, este seja o principal motivo da queda brusca de audiência temporada após temporada.

Séries teen já conseguiram ler a alma desta faixa de público nos últimos anos. É o caso da sensacional Skins, série britânica que faz uma leitura impressionante de adolescentes, que deveria servir de espelho para qualquer produção mundial quando o assunto é jovem. É evidente que num país como o Brasil não se pode exibir algo tão ousado, mas Malhação já conseguiu fazer leituras - ainda que superficiais - dos adolescentes brasileiros, mas perdeu a mão faz tempo. É preciso encontrar o caminho ou pensar em outra proposta.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Brasil ainda engatinha quando o assunto é séries

É fato que o Brasil é um dos países - senão o maior - que melhor produz telenovelas em todo o mundo. Nossos folhetins são comprados por centenas de países e milhões de pessoas admiram o trabalho de composição deste formato com linguagem própria, indo ao ar diariamente e com toda uma estilística definida. Em compensação, enquanto o mundo avança em produções de qualidade quando o assunto é séries, o Brasil parece não conseguir deixar de engatinhar.

Os motivos são os mais variados, vai da falta de investimento até a pouca experiência. Para alguns especialistas, este cenário deve mudar nos próximos anos graças a Lei de Cota de Produção Nacional da TV fechada. A Lei obriga todos os canais de TV a cabo a levar ao ar um número de horas específicas de produção nacional e isso tem feito o mercado se movimentar, já levando ao ar alguns produtos, mesmo em 2013 quando a Lei está em momento de adequação.

É evidente que, quanto mais se produz, maiores são as chances de conseguirmos assistir séries de qualidade. Como o país ainda engatinha neste formato, é bastante lógico entender que não há como se exigir produtos muito rebuscados, mas é preciso ter senso crítico para tentar enxergar o que pode ou não ir ao ar, no momento em que se avalia determinado roteiro. A justificativa de que, como é o início, toda tentativa é válida soa muito pobre, pois é possível apostar em roteiros com um mínimo de qualidade.

Arriscar-se no drama talvez seja o mote ideal para o momento. O Brasil passou décadas investindo exclusivamente no humor - tanto na TV aberta quanto no Cinema - e conseguiu avançar. Haja visto que os últimos anos apresentaram produções interessantes neste formato, como as excelentes Louco por Elas e Pé na Cova. Essas duas são representações de que o país consegue ir além do humor fácil e simplório que fomos acostumados por muitos anos.

Mas a TV a Cabo ainda derrapa. Tanto no drama quanto na comédia, percebe-se uma clara boa vontade e intenção de acertar, mas os erros tornam-se cada vez mais evidentes conforme a grade de programação começa a ceder espaço para séries nacionais. Diante de um ou outro acerto, o que se vê é uma sucessão de erros que não demonstram apenas falta de experiência, mas o equívoco de imaginar que um produto pode sobreviver apenas com o nome de alguém envolvido.

No drama, as emissoras fechadas vem fazendo algumas tentativas válidas de se produzir algo realente interessante. É o caso de Três Terezas e Sessão de Terapia, ambas da GNT - emissora que mais tem investido até este momento - que conseguem sair do óbvio e, embora ainda cometam deslizes, demonstram estar no caminho certo. Em compensação, também há equívocos, como o caso da fraquíssima Copa Hotel que não disse a que veio ou de Contos de Edgar, uma tentativa insana com roteiro pífio.

A estreia desta segunda-feira, 08, Vai que Cola, do canal Multishow, segue este caminho, mas na comédia. Um produto que certamente exigiu algum investimento financeiro importante por parte da emissora, mas que parece não ter passado por qualquer avaliação prévia de seu roteiro antes de ir para o ar. A impressão que se teve é que todos confiaram no talento de Paulo Gustavo e não fizeram uma avaliação mais apurada do que estavam produzindo e o resultado foi catastrófico.

É impensável que, enquanto a TV aberta já consegue levar ao ar produções de humor do nível de Pé na Cova, a TV Fechada apresente uma série que regrida tanto em qualidade. Com piadas de sentido sexual, e sempre buscando a saída fácil, o roteiro foi extremamente pobre e não explorou os caminhos que a comédia deve explorar. Não houve qualquer sutileza, seja nos diálogos superficiais e caricatos, ou na interpretação de um elenco que, sobretudo, não percebeu que teatro é teatro e TV é TV. Com muita gritaria, o resultado não tinha como agradar. Embora com momentos - raros - de lucidez, a série não parece ser a luz que a teledramaturgia busca na comédia. Está longe disso.

Estamos diante de um momento fundamental para nossa teledramaturgia, pois muitas séries começarão a ser produzidas nos próximos anos. É preciso um olhar mais atento para que consigamos levar ao ar algo de real qualidade e manter a excelência que nos acostumamos com as novelas. Pelos primeiros resultados, não parece uma tarefa fácil

domingo, 7 de julho de 2013

Uma boa sinopse não é sinal de um bom produto

O primeiro passo para se saber se estamos ou não diante de um bom produto é sua sinopse. É bem verdade que o grande público não tem acesso a uma sinopse completa - seja de novela ou de série - mas ainda assim é possível arriscar-se baseado nas informações que são divulgadas sobre determinada história antes de sua estreia. Este pode ser um caminho perigoso, uma vez que nem sempre a sinopse seja um indicativo verdadeiro sobre o que entrará no ar. Ainda assim, quase sempre é simples saber se estamos ou não diante de uma boa história.

Criar uma boa história é muito difícil. Mais difícil ainda é saber desenvolvê-la com a mesma sagacidade. Quando um autor imagina toda a construção de determinada história em sua mente e resume-a em seu computador, costurando assim a sinopse, pode-se estar diante de uma ideia brilhante. Daí a conseguir desenvolver com a mesma competência, há uma enorme diferença. É surpreendente assistir uma simples história sendo contada de forma competente, mas é frustrante acompanhaá-la enquanto se perde dia após dia.

Existe uma diferença grande entre pensar na história como um todo e colocá-la em prática diariamente - ou semanalmente, no caso de séries - os obstáculos começam a aparecer somente na construção do roteiro diário e é nele que os obstáculos vão aparecendo e, com eles, os atalhos extremamente perigosos que quase sempre culminam no enrosco de um bom projeto. Nem todo autor tem a mesma competência para desenhar um roteiro diário quanto tem para criar as linhas gerais e, quando ele não se atenta a isso, cercando-se de uma equipe competente, os resultados normalmente são desastrosos.

Não basta para um bom produto apresentar histórias e situações ousadas. É preciso contá-las de forma pertinente e crível, fugindo de atalhos quase sempre prejudiciais. Insensato Coração mostrou-se uma novela problemática justamente por equívocos de desenvolvimento. Sua história - muito interessante - foi contada com freio de mão puxado dando um tom de um prólogo eterno para sua primeira metade. 100 capítulos que poderiam ser contados em 40, no máximo e isso acabou por atrapalhar o desenvolvimento saudável da vingança de Norma (Glória Pires).

Balancear o desenvolvimento de uma história não é fácil. Na atualidade quem mostra-se mais competente nisso é João Emanuel Carneiro que consegue fugir das famosas barrigas - período em que não acontece nada nas novelas - criando diversos momentos importantes em suas tramas. Desenvolver uma boa história no timing correto quase sempre resulta em sucesso, vide Avenida Brasil.

A atual novela das 21 Horas, Amor À Vida, é um prato cheio para esta análise. Estreante no horário, Walcyr Carrasco não se fez de rogado e levou para a TV diversos temas polêmicos e pertinentes. Autismo, doença terminal e um vilão gay são três dos muitos temas tratados na novela. Ao se pensar exclusivamente nos temas e no desenho geral da novela parecia claro: estávamos diante de uma grande obra televisiva.

Não é o que acontece na prática. Embora tenha ousado em criar todas essas histórias, o autor se perde ao tentar desenvolvê-las, principalmente porque oferece ao telespectador um texto raso, com situações que não são aproveitadas ao máximo e diálogos didáticos que atrapalham o ritmo da história. Com isso, um folhetim que poderia ser dos mais interessantes, torna-se apenas chato e um desperdício.

Achar o ponto correto para transformar uma boa sinopse em um bom produto não é tarefa fácil. Principalmente se pensarmos que uma novela fica no ar cerca de 07 meses, é uma tarefa hercúlea conduzir esta história diariamente. Mas se o autor se propôs a fazer isso, cabe a ele encontrar instrumentos para conseguir, ou então, o resultado não agrada.

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