Desde que a TV produz dramaturgia a discussão existe e, certamente, irá perdurar por muitos anos. É uma questão complexa, afinal, envolve opiniões subjetivas e análises que vão além de prismas pessoais e devem passar por uma leitura da influência social que produtos de ficção tem diante de toda a comunidade de telespectadores.
Enxergar o público televisivo como uma grande massa que não raciocina de forma independente, mas absorve apenas tudo que vê diante da tela não parece ser o melhor caminho para quem tem a responsabilidade social e artística de transmitir algo para outrem. Ainda assim, há os que enxergam na teledramaturgia uma forma exclusiva de desafogo, de lazer, de passatempo. Estes, defendem que a população é tão sofredora que merece um refresco, se divertir e se emocionar sem ser obrigada a ficar raciocinando para compreender a proposta de nossas novelas e séries. É uma visão que deve ser levada em conta.
"Novela é feita para vender xampu", disse certa fez o novelista Aguinaldo Silva. Guardadas as proporções da frase de efeito dita pelo autor, é preciso observar que a novela é um produto que funciona dentro de uma empresa comercial que precisa de retorno financeiro para conseguir funcionar e continuar produzindo novos textos. Isso, contudo, não significa que para "vender xampu", a produção precisa necessariamente passar pelo raso e entrar no campo do puro lazer que não leva a lugar algum, apenas funcionando como um passatempo que mantém o público naquele torpor que não o faz pensar e não provoca nele reações importantes na construção da cidadania.
De fato, a teledramaturgia não tem como função fundamental educar. Mas entreter produzindo crescimento cultural é dever preponderante para quem se propõe a criar histórias ficcionais que serão assistidas pelas grandes massas. Quando uma obra - tanto novela quanto série - consegue ultrapassar a linha do lazer e invade o campo do entretenimento cultural, deve ser comemorado, pois é sinal que está conseguindo produzir algo que irá influenciar verdadeiramente seu público e, num país como o Brasil em que a TV auxilia mais que a escola, conseguir tal feito é de suma importância na construção de uma sociedade mais justa.
Uma novela como Amor à Vida que levanta uma importante discussão como o auto preconceito na homossexualidade e consegue levantar discussões pertinentes sobre o assunto, mostrando o preconceito da família, os medos e conflitos, leva o telespectador a refletir sobre sua postura diante daquelas situações. O resultado é uma geração que reflete sobre seus próprios problemas.
A Vida da Gente foi expert em levar o público a refletir seus conflitos e colocar em xeque suas próprias posturas ao se enxergar nos conflitos das personagens. Discussão semelhante é o que tem sido a toada de Sangue Bom, atual novela das 7. O público se sente representado não apenas através de questões polêmicas e externas, mas quando conflitos internos e traumas são mostrados, é importante para movimentar o raciocínio do público.
O que não contribui para este tipo de produção são os textos rasos e que não tem qualquer proposta fundamental para mexer com o telespectador, ou roteiros que primam pelo diálogo infantilóide ou com exceção de didatismo que prejudica o fluir do texto. Quem pensa em fazer televisão deveria participar da discussão e compreender que teledramaturgia não deve ser pensada como lazer, pois ela não serve para nada, mas quando se consegue levar ao ar um produto de entretenimento cultural, os resultados são muito mais densos e importantes para a sociedade.