sexta-feira, 17 de maio de 2013

Reta Final de Salve Jorge mostra coragem do roteiro

Ainda falta o último capítulo, que vai ao ar na noite desta sexta-feira, 17, mas a reta final de Salve Jorge está mostrando a ousadia e coragem de sua autora. Dona de um currículo invejável, Glória Perez não precisava provar mais nada para ninguém, mas ainda assim, neste seu trabalho, decidiu sair da zona de conforto, se adaptar ao novo momento da teledramaturgia e apresentar um roteiro que vai além das características que já conhecíamos de suas outras obras. E esta reta final está sublinhando isto.

Ao se analisar uma obra é preciso tentar se desvincular ao máximo das emoções enquanto telespectador e abrir mão de suas próprias expectativas. Ligado a uma obra, o público tem todo o direito de se frustrar com o desenrolar dos fatos, pois ele se sente dentro da história e, como ela não caminha por onde ele quer, ele se sente traído. É natural. Mas uma obra não é feita para seguir os trilhos que o público quer, muito longe disso. O objetivo fundamental é mexer, aguçar a mente e uma análise precisa enxergar isso.

É evidente que a atual novela das 21 Horas não agradou a todos, isso está muito claro. Mas é preciso um olhar mais amplo sobre esta obra que encerra seus trabalhos nesta noite. A coragem da autora em abrir mão de um modelo de folhetim que vinha funcionando perfeitamente em todos os seus trabalhos anteriores e utilizar-se de recursos que também eram novos dentro de seu contexto de escrita. Houve erros? Óbvio que sim, mas muito mais acertos. Muito mais que criticar os erros e elogiar os acertos é preciso aplaudir a coragem em mudar. Num momento chave para as telenovelas em que os autores mais experientes demonstram certo incômodo com o fôlego que os novos autores levam para a tela, é preciso elogiar a coragem de Glória Perez.

A reta final do folhetim está apenas sendo uma amostra desta coragem. A novela toda foi marcada por novidades estilísticas da autora - como o ritmo, o pano de fundo, o tom sombrio da história principal - e isso por si só já merece observações positivas. Não é fácil para um autor consagrado se esvaziar de seu próprio formato e buscar novos trilhos. Sair da zona de conforto nunca é fácil e por isso é preciso observar esta ousadia. Estes últimos capítulos também mostraram novidades interessantes.

O penúltimo capítulo, exibido na noite de quinta-feira, chamou a atenção por preparar o desfecho dos núcleos paralelos enquanto preparava o ritmo alucinante que deve ser o último capítulo todo focado no núcleo principal. O que ficou claro é que os núcleos paralelos, embora ganhassem muito destaque, não apresentavam tendência de final, ao contrário, o que se via mais parecia um capítulo do miolo da novela e isso acabou por incomodar algumas pessoas, acostumadas a um ritmo mais intenso em reta final, além de perspectiva do conhecido "final feliz" nos núcleos.

Óbvio que a estranheza é válida e o público pode simplesmente não ter compreendido a proposta. O roteiro  esteve longe de ser morno ou embarrigado neste penúltimo capítulo. Tudo foi intencional e ficou claro, numa leitura um pouco menos superficial. Glória Perez arriscou receber novas críticas, mas teve a coragem de inovar. Os núcleos não foram fechados, não porque foi um capítulo "barriga", mas porque a autora decidiu mostrar que as personagens não, necessariamente, precisam ter finais. As personagens continuam, suas histórias, seus traumas não precisam obrigatoriamente chegar ao fim com o desfecho da novela e esta é a proposta de Salve Jorge - e uma proposta ousada.

Esta reta final de Salve Jorge é apenas uma ilustração de toda a coragem de roteiro que sua autora teve. Ora acertando, ora errando, isso é muito menos importante que a ousadia. As telenovelas precisam de novas leituras, roteiros menos engessados e mais corajosos. E tudo que não faltou a Glória Perez foi coragem.

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