quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sangue Bom: complexidade em embalagem simples

Normalmente espera-se 20 capítulos - pelo menos - para se ter uma visão abrangente sobre todos os elementos de uma novela. É o tempo necessário para se tentar compreender melhor a estrutura montada pelos roteiristas, além do conceito de direção e até a condição e caminhos percorridos pelo elenco a fim de entregar um bom produto finalizado.

Com menos de 10 capítulos exibidos, Sangue Bom - novo trabalho do horário das 19 Horas - não é uma exceção. Ainda está cedo para tentar enxergar tantos elementos numa obra que ainda tem tanto a dizer. Seria arrogância afirmar que tudo já está claro, longe disso. Mas é preciso reconhecer o trabalho complexo, quase artesanal da equipe de roteiristas de mais um trabalho deslumbrante com a assinatura de Maria Adelaide Amaral.

Normalmente o horário das 19 horas é o mais complicado em se tratando de propostas. Ninguém sabe ao certo qual o tipo de público e o que este público quer assistir no horário. Tramas completamente distintas umas das outras fizeram sucesso no horário e obras que tentaram seguir o modelo do sucesso fracassaram de forma retumbante, isso por si só prova que não é tão fácil escrever para o horário. Uma coisa, porém, parece óbvio: o público das 19 Horas quer tramas simples.

E nenhum produto com assinatura de Maria Adelaide Amaral costuma ser simples. Ela é uma autora que odeia obviedades e quase nunca escolhe o caminho mais superficial. Suas personagens sempre aparecem com muito mais que uma simples camada e são sempre de difícil leitura. Um estilo que parece bastante distante do ideal para este horário, mas a autora mostrou que é capaz de unir esses elementos e apresentar um roteiro interessante.

O eixo de Sangue Bom é basicamente simples. Quem assiste a novela de forma desinteressada tem a falsa impressão de estar diante de uma trama fútil, sem grandes questionamentos e que tem por função básica apenas divertir. Mas nada é exatamente o que parece. O roteiro apresenta um humor fino, com forte crítica social e com citações pops que tornam as sequências hilariantes, além de muito bem desenvolvidas. É humor da mais pura qualidade.

Além disso, a trama central com os seis protagonistas é de uma complexidade incrível. Daí o distanciamento de Malhação - novelinha teen da mesma emissora. O folhetim das 7 é realmente uma história adulta e com diversas camadas. Os seis protagonistas apresentam tantos complexos, tantos conflitos interiores que daria para escrever diversos textos exclusivamente para cada um deles. Ainda assim, os autores conseguem apresentá-los de forma leve, sem pesar a mão. A ideia de criar seis protagonistas jovem contribuiu para a embalagem simples, mas é só para chamar a atenção, pois eles são muito complexos.

Apresentar complexidade com simplicidade não é tarefa fácil. Conseguir colocar complexidade neste horário, menos ainda. Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari merecem os parabéns por construir uma novela em que o roteiro mostra-se absolutamente correto. Aparentemente tudo é feito de forma simples, mas muito bem planejada a fim de que, as referências e as reflexões estejam ali de forma quase subliminar, tão sutil que é.

Sangue Bom não é uma típica novela das 19 Horas, vai muito além disso. É um produto fino vendido como popular. Difícil dizer se o público irá comprar a ideia - a audiência da novela está em crescente, mas é cedo para qualquer prognóstico. Fato é que a tentativa é válida e a trama é deliciosa.

domingo, 5 de maio de 2013

Walter Negrão se reinventa em Flor do Caribe

Após uma estreia conturbada e ainda carregando certas irregularidades no elenco, Flor do Caribe parece ser a responsável por levar de volta ao horário das 18 Horas a qualidade que o público se acostumou nos últimos anos. Após duas obras irregulares ao extremo - Amor Eterno Amor e Lado a Lado - a trama de Walter Negrão apresenta uma produção caprichada que acerta nos mais diversos elementos necessários para levar ao ar um bom produto.

Walter Negrão, aliás, parece estar numa fase interessante. O autor que viveu um período de ouro entre o fim dos anos 80 e a década de 90 com obras icônicas de nossa teledramaturgia (Fera Radical, Top Model e Tropicaliente, para citar três) não viveu um bom momento neste novo milênio. A bem da verdade, desde Tropicaliente Negrão não conseguiu emplacar um grande sucesso de crítica e público. Embora tenha chegado a concorrer ao Emmy Internacional com Araguaia, nem ela e nem suas tramas anteriores conseguiram ser envolventes.

A bem da verdade, ao se assistir suas novelas, a impressão que se dava era de estarmos diante de mais um autor acomodado. Ledo engano. Em Flor do Caribe ele arregaçou as mangas e vem mostrando o mesmo fôlego de 20 anos atrás. Um texto muito interessante, cheio de situação que instigam e viradas inesperadas, além de diálogos rápidos e cheio de camadas mais profundas é o que se tem visto em praticamente todos os capítulos do folhetim.

Após alguns anos em que a Rede Globo parecia carente de novos autores, pois os mais experientes pareciam não conseguir ler o novo momento do país, tudo começa a se ajeitar novamente. Walter Negrão é apenas um dos autores experientes que estão se arriscando e fugindo do lugar-comum na tentativa de apresentar algo novo e instigante para o telespectador. É importante um olhar para este momento, pois ele pode representar uma virada em nossa teledramaturgia.

Embora não haja nada de novo em Flor do Caribe, é importante salientar que seu autor conseguiu enxergar bem o momento que as telenovelas brasileiras vivem e criar uma história bastante atraente. Até agora o ponto alto desta história se dá no fato de não termos barriga. Além disso, é muito interessante perceber que o autor está com a história nas mãos, pois não tem medo. Nenhum segredo dura muito nesta trama, o que demonstra bastante segurança para contar diversas histórias de suas personagens.

Quando um autor erra por comodismo seus erros são apontados, quando ele erra na tentativa de inovar, é preciso citar seus méritos. Mas quando um autor acerta e se reconstrói diante dos olhos do público também é preciso ter um olhar para este fato. Walter Negrão vem dando mostra do autor competente que sempre foi e, mais, conseguindo se reinventar 20 anos depois de fazer sucesso. Ponto para ele.

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