sexta-feira, 26 de abril de 2013

Guerra dos Sexos mostrou que remake nem sempre é uma boa ideia

Encerrada nesta sexta-feira, 26, o remake de Guerra dos Sexos, com assinatura de Sílvio de Abreu e direção geral de Jorge Fernando levou para casa a incômoda marca de pior audiência de todos os tempos do horário das 19 Horas e não foi capaz de segurar o estouro que foi sua antecessora, a excelente, Cheias de Charme.

Desde meados de 2009 o autor Sílvio de Abreu começou a ventilar sua vontade de produzir o remake dessa obra que foi ao ar originalmente na década de 80 e se tornou um dos maiores sucessos do horário das 19 Horas em todos os tempos. Não resta dúvida que aquele folhetim se tornou icônico para a teledramaturgia nacional e teve uma importância fundamental no desenvolvimento das histórias com pegada de humor mais leve e menos pretensioso. 

Desde que anunciou-se que o remake seria produzido todos - público e crítica - ficaram em polvorosa. Ter a oportunidade de acompanha "in loco" uma trama tão importante para nossas novelas parecia uma boa ideia. Após os remakes bem sucedidos de Tititi e de O Astro, parecia evidente que era um acerto do autor tentar recontar sua própria história de sucesso.

Mas desde o primeiro capítulo ficou claro que foi um completo equívoco. É difícil mensurar qual foi o erro deste remake e qualquer conclusão será mera conjuntura, o único fato consumado é que esta produção não deveria ter ido ao ar e acabou maculando uma história que era, até então, idolatrada e pertencia a memória afetiva do telespectador. 

Apostando em manter a tal guerra entre homens e mulheres e autor errou a mão no roteiro e apresentou uma trama mofada - principalmente porque entrou no ar logo depois de uma história tão moderna - sem nenhum charme. Com humor pastelão e muito infantilóide, as situações eram constrangedoras e logo se tornou quase impossível assistir a um capítulo inteiro.

Com a forte rejeição do público a história foi se modificando, o novelista apostou nas relações amorosas, pesou a mão no drama e tentou melhorar a comédia apostando alto na metalinguagem. Alguns núcleos conseguiram melhorar e a trama ficou um pouco mais atraente, mas longe de ser a deliciosa história contada originalmente.

A direção de Jorge Fernando também foi bastante equivocada. O experiente diretor deu um tom infantil demais e incomodou ao extremo. Se o texto já era infantil, com essa direção, tudo ficou mais escancarado e bobo. Jorge Fernando é ótimo em comédia - talvez o melhor - e sabe como traduzir bem um roteiro, mas dessa vez fugiu do tom e acabou prejudicando um roteiro que já era ruim.

Se há um ponto positivo nesta novela trata-se de seu elenco. Levou tempo para que se acertasse o tom, mas os atores e as atrizes - ao menos a maioria - deu show e conseguiu fazer seu melhor, mesmo diante de tantos problemas. Difícil destacar alguém em meio a um elenco que brilhou e esteve em estado de graça durante praticamente todos os momentos importantes.

Com um último capítulo constrangedor - certamente o pior da história - Guerra dos Sexos chega ao fim com uma certeza: remake é uma decisão acertada, mas não pode ser produzido indiscriminadamente. Nem toda novela nasceu para ter um remake, Guerra dos Sexos certamente é uma delas.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Roteiro é o ponto de alto de Flor do Caribe

Para uma novela ganhar ares épicos ou ser considerada entre as melhores de uma época - ou mesmo de todos os tempos - é preciso reunir uma série de elementos que, quando funcionam em uníssono transformam a obra em algo que vai além da própria TV. Mas todos esses elementos funcionarem ao mesmo tempo é algo muito raro de se ver. Quando isso não ocorre, dependendo dos elementos que funcionam, ficamos diante de um bom produto, mas que não explora sua potencialidade.

É o caso de Flor do Caribe. Novela das 18 Horas que traz a assinatura do experiente Walter Negrão e surpreende o telespectador com um texto prático, ágil, com muitas viradas e muitas situações contundentes. Cenas fortes, muita ação e mudanças de rumo vem marcando a novela nestes primeiros meses de exibição e já a coloca como uma obra marcante do autor que resolveu inovar e sair do conforto de seu estilo - Negrão é o autor de Araguaia, novela morna, tranquila e lenta.

Segundo o próprio autor, seu estilo foi inspirado no trabalho de João Emanuel Carneiro - autor de Avenida Brasil - que, embora mais novo, vem se revelando um grande novelista. E não é apenas no discurso, pois a atual trama das seis se mostra realmente envolvente, com roteiro denso e muitas situações contundentes, marga registrada do mais jovem autor do horário nobre da TV brasileira.

Parece óbvio que este é dos melhores, senão o melhor trabalho de Negrão. O autor vem se mostrando versátil e capaz de criar um roteiro intrincado e bastante interessante, mantendo a coerência. O texto de capítulo após capítulo segue esta regra e se apresenta de forma interessante, sem encheção de linguiça. Os diálogos seguem a mesma linha e estão cada vez melhores, contribuindo para boa parte da tensão que toma conta dos capítulos.

Mesmo com roteiro e texto acertados com rara felicidade não se pode dizer que Flor do Caribe esteja, até o momento, na lista de melhores novelas de todos os tempos do horário. Ainda que Jayme Monjardim mais acerte que erre na direção - embora tenha cometido alguns equívocos, como o tom amarelado das cenas que funcionava melhor em A Vida da Gente - ele não atrapalha e dá o ritmo necessário para as cenas, conforme o texto pede.

O grande senão do folhetim está por conta da irregularidade de seu elenco. Felizmente Grazi Massafera se encontrou, após um começo complicado, e tomou conta de sua protagonista, transformando-se no grande destaque da novela até o momento. Mas, do núcleo principal, apenas ela funciona. Igor Riclki tem em mãos um vilão extremamente complexo e que exige muita envergadura de seu intérprete e o novato claramente não está dando conta. Com sua interpretação limitada, o ator acaba nivelando por baixo cenas que poderiam ser épicas nas mãos de um profissional mais experiente. Henri Castelli, mesmo com tantos anos de bagagem, também não contribui. Ele não consegue acertar o tom de seu protagonista, principalmente nas cenas de amor e também atrapalha o ritmo da história.

A ironia de um elenco irregular e que atrapalha uma obra com roteiro e textos tão bons se dá justamente por ter em seu cast dois atores que estão roubando a cena. Sérgio Mamberti e Juca de Oliveira, embora coadjuvantes, vem dando show em todas as cenas em que aparecem, juntos ou separados, e dão um charme todo especial para a construção dessa história paralela sobre o nazismo. Outros coadjuvantes também vem mais errando que acertando, uma mostra da irregularidade de um elenco mal escolhido.

Flor do Caribe é um grande trabalho de Walter Negrão. Caminhando nesse ritmo certamente será lembrada de forma carinhosa pelo público, mas acaba sendo impedida de fazer parte da memória afetiva com cenas épicas justamente pela irregularidade de seu elenco. A novela é interessante, bem desenhada, mas poderia ser melhor nas mãos de outros atores e atrizes.

Twitter Facebook Adicionar aos Favoritos Mais

 
Tecnologia do Blogger | por João Pedro Ferreira