terça-feira, 16 de abril de 2013

Guerra dos Sexos aposta em metalinguagem e acerta, mas com atraso

Já na reta final e, muito provavelmente, recebendo o título de pior audiência da história do horário das 19 horas, o remake de uma das novelas mais icônicas da nossa TV, Guerra dos Sexos, de Sílvio de Abreu, vem promovendo uma aposta interessante nos últimos capítulos: a metalinguagem. Uma pena que o autor percebeu tão tardiamente que este era o caminho para sua produção e, somente agora, conseguiu atrair o público.

Desde o início do folhetim o que se viu neste remake foi um amontoado de piadas infantilóides e situações que fugiam completamente da realidade do Brasil contemporâneo. Um equívoco grave que afugentou o público que havia voltado para o horário a fim de acompanhar a antecessora, Cheias de Charme. Estreando justamente depois de uma novela tão inovadora, a trama de Sílvio de Abreu ficou cheirando a mofo e não tinha como manter a audiência estável.

E o autor tentou de tudo para chamar o telespectador de volta. A princípio manteve a mesma aposta da primeira exibição, e focou na tal guerra entre homens e mulheres, mas não funcionou por motivos óbvios. Em seguida, a aposta foi nos relacionamentos. O autor transformou a novela numa espécie de cantinho do amor e foi fundo nos mais diversos tipos de relacionamentos amorosos. Neste momento o folhetim melhorou, pois conseguiu se afastar das piadas fracas e das situações que tanto vinham incomodando.

Mas o grande acerto mesmo deste remake é a aposta na metalinguagem. O capítulo exibido na última segunda-feira (15) foi um exemplo clássico disso. Sílvio se mostrou inspirado e não temeu inspirar-se em grandes obras da TV para promover seu capítulo, ao contrário, bebeu da fonte, homenageou cenas icônicas e tudo funcionou dentro do timing necessário para cenas de qualidade.

A sequência de diálogo entre Carolina (Bianca Bin) e Roberta (Glória Pires) bebeu da água de várias outros diálogos, ricos em qualidade e com o tom crítico que o Brasil tanto viu em vilãs. Em dado momento da conversa, Carolina parecia inspirada em Odete Roitmann e Maria de Fátima (Vale Tudo), mas também lembrou bastante o discurso amoral de Bia Falcão (Belíssima).

Mas a melhor sequência foi para a cena em que a mãe de Carolina descobre o golpe que a filha estava dando para conseguir casar. Drica Moraes ficou a vontade no texto e arrasou. Em determinado ponto da conversa, a personagem disse: "Eu sei que esse bebê é um golpe. E o que você pretende fazer depois? Roubar uma criança igual aquela novela?" (citando Senhora do Destino). Carolina responde tranquilamente: "Eu já pensei em tudo, vou me jogar da escada e dizer que perdi o bebê". E a mãe chocada conclui. "Ah, então você quer fazer igual a outra novela. Pois eu também vou fazer, vou fazer igual a Regina Duarte naquela novela" e parte para cima da filha rasgando seu vestido de noiva numa sequência idêntica a de Vale Tudo.

Se tivesse apostado neste tom, certamente Guerra dos Sexos teria tido dias melhores. Este foi o tom do remake de Tititi pelas mãos de Maria Adelaide Amaral e funcionou perfeitamente, mais um motivo para nos fazer crer que funcionaria aqui. Pena que o autor demorou muito para perceber.

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