quarta-feira, 20 de março de 2013

Direção atrapalha Salve Jorge

A onda de críticas que Salve Jorge vem recebendo esta semana, ao contrário dos muitos tons acima que acentuavam certa perseguição até bem pouco tempo, é bastante acertada, embora pessoas que se manifestem como entendedores do assunto, acabam demonstrando bastante desconhecimento da mecânica de funcionamento de uma produção de TV.

Glória Perez não precisa de defesa, seu currículo fala por si só, e como já foi dito aqui, a atual trama é a melhor dela e um acerto da autora. Porém, uma novela não sobrevive exclusivamente da ousadia de seu autor e de um roteiro inovador, instigante e que provoque diversas reações no telespectador. Para sobreviver exclusivamente do texto, é necessário que se escreva um livro - ainda assim são necessários alguns elementos que vão além da capacidade do autor.

Avenida Brasil, trama anterior, é um exemplo clássico disso. O sucesso da produção se deveu ao casamento perfeito do extraordinário texto de João Emanuel Carneiro com a direção primorosa de Ricardo Waddington com sua equipe (destaque para a divina Amora Mautner, a melhor diretora de cenas da atualidade) e um elenco em raro estado de felicidade. Tudo precisa funcionar em harmonia para que o que é escrito vá ao ar exatamente da maneira como a planejada.

E o roteiro da novela é muito bom. Sobrevivendo de intensas viradas, cenas ágeis e bastante ação, o roteiro se apoia no que parece ser o gosto atual do telespectador: adrenalina. A brincadeira de gato e rato entre Helô (Giovana Antonelli) e a quadrilha de tráfico de pessoas vem se encorpando nas últimas semanas e tomando conta da história, com participação fundamental da protagonista, Morena (Nanda Costa). A ação, inclusive, conseguiu suprimir os momentos de amor que são marca fundamentais da autora. Ninguém pode acusar esta novela de apresentar roteiro lento.

Porém, é preciso saber separar texto dos outros elementos do folhetim. E em Salve Jorge há um grande problema - desde a estreia, aliás. Trata-se da direção que vem se equivocando de maneira grave e atrapalha a produção como um todo. Os erros são dos mais variados, desde continuidade - como no caso dos diferentes cabelos de Morena - como de posicionamento de câmera e mesmo direção de atores, permitindo cenas que deveriam ser intensas se transformarem em um amontoado de frases ditos um por cima do outro.

Nas últimas semanas, porém, os erros estão se tornando mais evidentes porque aparecem em cenas fundamentais para o bom andamento da história. A sequência exibida no capítulo da última terça, 19, foi sintomático. O texto foi bem escrito, desde o planejamento da delegada em armar uma emboscada contra Lívia (Cláudia Raia) e seus comparsas até o momento de seu atentado falso. O texto finalizado no capítulo com "morre, maldita" dito pelo vilão Russo foi o ponto alto para encerrar uma cena tensa e que poderia ser da melhor qualidade, mas não foi. Isso porque a direção se equivocou em toda a sequência. Desde o momento em que Russo sai do carro até os tiros na suposta delegada, nada funcionou. O boneco caindo foi constrangedor porque era nítido não se tratar de um ser humano.

Marcos Schechtman é um diretor tarimbado, competente e que fez um excelente trabalho em Caminho das Índias, contribuindo bastante para a produção vencer o Emmy Internacional, mas dessa vez, está errando muito mais que o permitido e atrapalha que a novela seja um diferencial.

Salve Jorge é uma novela ousada que trata de um tema importante e válido. Glória Perez acertou a mão no roteiro e acerta na maioria dos diálogos, produzindo um texto interessante de se ouvir. O problema é a direção que está muito abaixo do esperado para uma novela das 21 Horas. Este é um exemplo clássico de quando texto e direção não dialogam.

terça-feira, 19 de março de 2013

Dani Calabresa não funciona na estreia do CQC

O retorno do CQC nesta segunda-feira, 18, foi muito mais que a simples volta da trupe que sempre atrai olhares por sua inovação e modelo inteligente de se tentar fazer humor na TV brasileira. Todos os anos a nova temporada do grupo é aguardada com ansiedade, pois normalmente sempre há novidades interessantes e criativas. Mas em 2013 o foco de toda a crítica - e de um grupo de telespectadores também - era a estreia de Dani Calabresa, grande revelação do humor da MTV nos últimos anos.

A ideia em levar a humorista para o show foi um risco calculado na intenção de apresentar uma novidade relevante, principalmente porque pelo menos nas duas últimas temporadas, a trupe não conseguiu apresentar nada de novo e o humor considerado com frescor nos anos iniciais já começava a demonstrar certo desgaste, embora continuasse com o mesmo estilo ácido, inteligente e com ótimas sacadas. Faltava arriscar.

E a presença de Calabresa era o risco que faltava, além de recolocar o programa em evidência novamente, tudo que uma produção de TV precisa. A expectativa foi aumentando conforme a emissora ia divulgando os teasers do show e também com entrevistas dos envolvidos para a mídia especializada. A grande questão era saber se a humorista havia acertado ao assinar com a Band, entrando em um grupo já consolidado e com um estilo completamente diferente do que ela produzia na MTV.

A tirar pela estreia, a ideia não funcionou. É preciso calma ao analisar esta frase e configurá-la dentro do contexto da participação de Dani nesse retorno do CQC. Muito longe de ser uma profissional limitada, ela mostrou todo o seu talento para o humor, para o improviso e para a imitação - seu forte - no tempo em que ficou no ar neste primeiro episódio. A participação dela foi, de fato, engraçada, criativa e apresentou uma mistura de tudo que ela já havia feito na outra emissora.

Porém, a participação deixou o programa com ares de disfuncionalidade. A começar por sua presença na bancada para divulgar seu quadro - o que parece ser regra da temporada. Não se faz necessário levá-la na bancada apenas para isso, todo o esforço deu a impressão de ser apenas uma forma de valorizar a profissional competente que ela é, mas desconfigurou todo o esqueleto do programa que sempre funcionou muito bem.

O quadro em si é ainda mais distante da produção do CQC. Quem assistiu todo o programa de estreia da temporada, ao ver o quadro de Dani Calabresa, sentiu-se certamente assistindo a uma esquete de humor durante um dos intervalos. O humor proposto esteve muito distante, para não dizer antônimo, do restante do programa. 

A mistura de humor com jornalismo esteve muito em evidência neste bom retorno do CQC, mas Dani Calabresa apresentou um outro formato de humor, que em nada lembrou o restante do episódio e causou bastante estranheza. Não é porque há qualidade - e há bastante - que estilos de humor completamente diferentes podem se alinhar dentro de um mesmo show. É arriscado e nem sempre funciona. Neste caso, não funcionou.

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