sábado, 9 de março de 2013

Lado a Lado: a novela da enganação

Chegou ao fim na última sexta-feira a novela das 18 Horas: Lado a Lado. Dos estreantes João Ximenes Braga e Cláudia Lage, a trama estreou cercada de expectativas. Muito disso por conta das excelentes chamadas e por tudo que cercava a produção: uma história que parecia intrigante e interessante, um elenco impecável, além da supervisão do ótimo Gilberto Braga. Parecia que estávamos diante de uma obra de arte. Só parecia.

Agora, meses depois, com o encerramento da obra, sem dúvida alguma é possível afirmar que ela foi um dos maiores equívocos da Globo nos últimos tempos - senão o maior. Os autores erraram o tempo todo ao tentar levar para a TV um modelo de produto literário e que, nem de longe, conseguia transmitir a linguagem de novelas. Muitos poderiam considerar isso uma inovação, mas não é. Uma novela que não dialoga dentro de seu contexto não pode dar certo, e é óbvio que ela não funcionou.

O excesso de didatismo foi o primeiro problema constatado. Este foi um erro de consequência e não de causa, como muitos pensaram. O didatismo acabou sendo apenas uma ponte entra a intencionalidade do roteiro até a absorção do telespectador. Em semiótica poderíamos chamar tranquilamente a didática extrapolada neste caso de signo, pois referenciou o significante (o que os autores queriam passar) para o significado (o que o público iria compreender).

Veja que até para analisar o caos que se tornou o roteiro de Lado a Lado é necessário teorias mais complexas e estamos falando de uma novela das 18 Horas que tem por tradição a simplicidade. Quando a nova dupla de autores apostou em transformar um momento histórico do Brasil como personagem principal e não apenas como pano de fundo, ela se esqueceu de dar para isso um contexto folhetinesco e escorregou, transformando a trama num amontoado de aulas de História desnecessárias, sem grande compromisso com a verdade e sem acrescentar nada dramaturgicamente falando. Uma sucessão de equívocos.

A direção também mais errou que acertou. Nos primeiros capítulos, um tom acinzentado incomodava demais quem tentava assistir aquele amontoado de cenas históricas. Mesmo depois que a fotografia melhorou bastante, algumas marcações e posicionamento de câmeras acabaram incomodando, mesmo que não comprometessem a história como um todo.

O grande acerto da novela foi seu elenco. Afiadíssimo, mesmo com um texto confuso nas mãos, boa parte do elenco deu show. A começar pelo quarteto de protagonistas que estiveram sempre muito bem. Lázaro Ramos mostrou novamente seu talento para compôr personagens instigantes. Camila Pitanga esteve segura ao conduzir sua Isabel. Thiago Fragoso também mostrou segurança, embora, dos quatro, fosse o que cometia mais deslizes. Já Marjorie Estiano foi, de longe, a principal peça desse show. Se a novela serviu para algo foi para mostra que a atriz está pronta, cheia de recursos e caminha para ser das melhores. Também vimos show de Patrícia Pilar que novamente vestiu a pele de vilã e com toda a competência.

Lado a Lado chegou ao fim sem dizer a que veio. A novela não conseguiu dialogar com o telespectador, não conseguiu a atenção necessária em torno de si. Sem audiência, sem repercussão, ela foi apenas uma grande enganação. Uma novela que vestiu a carapuça do "cult" e conseguiu vender essa imagem apenas para algumas pessoas. A verdade é que, nem de longe, cult é a melhor definição para este trabalho apenas razoável e que afastou completamente o público da TV.

Twitter Facebook Adicionar aos Favoritos Mais

 
Tecnologia do Blogger | por João Pedro Ferreira