sábado, 19 de janeiro de 2013

Por audiência, Lado a Lado muda e se perde

Nunca fui exatamente um fã da atual novela das 18 Horas, Lado a Lado. Mesmo considerando que o folhetim errava ao transformar-se muito mais numa aula de História, cheia de diálogos didáticos e enfadonhos que afugentavam o público, sempre reconheci que o tratamento luxuoso dado às cenas e ao próprio texto justificavam as críticas positivas que ela recebeu ao longo dos tempos.

Porém, com a pior média parcial já registrada pelo horário, os autores - a pedido da emissora, ou não - resolveram modificar algumas coisas. Essa semana foi toda cheia de conflitos com a descoberta por parte de todos que o menino Elias é o filho de Isabel. Abandonando o didatismo e deixando de lado as longas cenas com representação histórica do período de tempo retratado, a trama apostou no tom folhetinesco e se aproximou bastante do estilo de Gilberto Braga, que é o supervisor da obra.

O grande problema, contudo, é que os autores demonstraram bastante despreparo ao alterar a linha dorsal da história. Enquanto apostava em um texto rebuscado, com referências históricas, podia-se discutir a linguagem literária e que não agrada a todos - como nunca agradou a mim - mas não havia como discutir a qualidade do texto em si, bem construído e desenhado com profundidade, apostando na densidade e sutileza de cada frase.

Isso também foi abandonado e, a partir daí, a novela perdeu-se. O que se viu nessa semana foi uma outra novela. Lado a Lado rasgou seu próprio roteiro e apostou num tom popular, com sequências e frases de efeito que tentam fisgar o público mediano pelo caminho mais fácil. Diálogos rasos que incomodariam uma criança de 10 anos, sequências óbvias e frases clichês ao extremo, a semana que poderia dar um novo rumo para a novela foi a que a transformou numa caricatura de si própria.

É preciso que se compreenda que mesmo uma trama aberta como são as novelas precisam de roteiros prudentes e coerentes. O que a dupla de autores fez esta semana é um equívoco grave, mas recorrente na televisão. A apelação para o drama popular quase sempre dá resultados em números de audiência, mas também quase sempre compromete a coerência da obra. Não se pode abrir mão de determinados valores apenas pela audiência. Novela é arte e precisa ser tratada como tal.

Ao modificar a estrutura narrativa de Lado a Lado os autores, além de assumir que não foram capazes de atrair o telespectador com seu modelo de novelas, jogaram fora os elementos que poderiam deixar boas lembranças dessas obras. O que se vê atualmente, não é mais a novela que foi apresentada, é uma espécie de mutação muito mal produzida.

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