segunda-feira, 10 de junho de 2013

A teledramaturgia e a História

Olhar para trás sempre foi da natureza humana. Antropólogos estudam o comportamento da História da humanidade ao longo dos milhares de anos desde a evolução da raça - há um certo consenso de que a História começou, no conceito humano a partir do século 13 a.c. - e o fascínio dos homens pela sua própria história é fato consumado. A teledramaturgia não poderia fugir disso e de tempos em tempos surgem folhetins que conseguem apresentar, de forma folhetinesca, uma base histórica importante.

O melhor exemplo desse modelo atualmente é Flor do Caribe. A trama das 18 Horas com assinatura de Walter Negrão e direção geral de Jayme Monjardim vem mostrando um núcleo paralelo que chama a atenção. Seja pelo capricho de roteiro ou pela competência dos atores, fato é que a novela consegue oferecer um ponto de vista dramatúrgico sobre um momento histórico importante para o ser humano.

Ao falar sobre o nazismo e as atrocidades cometidas pelo nazismo de Adolf Hitler contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, a trama permite que o telespectador, além de acompanhar um roteiro dramaturgicamente bem amarrado, conhecer um pouco mais da História da Humanidade, apresentando ainda os dois pontos de vista do modelo.  Assim, o entretenimento cultural é colocado diante do telespectador que pode ter momentos de lazer e aprender um pouco mais.

Misturar História a dramaturgia é mais comum no Brasil em minisséries. A Rede Globo produziu um sem-número de obras em que a ficção se baseava num momento ou numa figura histórica importante - JK e Mad Maria, para citar apenas duas - mas também houve ficção em momentos importantes da História em que o período era o protagonista da obra, como na deliciosa minissérie de Gilberto Braga, Anos Rebeldes, reprisada pelo Viva há pouco tempo.

Transmitir entretenimento de qualidade olhando para trás e apresentar fatos históricos reais ou colocar personagens em momentos fundamentais da existência humana é importante, porém é preciso que se faça com cuidado. Quando o roteiro não percebe que não tem por função dar aulas de História, antes, de contar apenas uma boa história, o risco de se tornar didático e transformar sua produção numa espécie de telecurso é grande.

O maior exemplo disso foi Lado a Lado. A trama anterior do horário das 18 Horas apresentou para o público diversos momentos importantes da História brasileira, mas sem conseguir transmitir isso de forma lúdica, a impressão que se tinha era de se estar diante de uma aula e não de uma novela. Os equívocos de roteiro prejudicaram que momentos históricos do país fossem vistos de um outro ponto de vista e chamassem a atenção do público que, assim, aprenderia com entretenimento.

Há de louvar quando um autor opta por apresentar fatos históricos ou colocar um período como protagonista permitindo que o telespectador se eduque com entretenimento. Quando os cuidados são tomados e a História não se sobrepõe a história, os louros colhidos são muito válidos e se tem dramaturgia da melhor qualidade.

3 Quebraram tudo:

Fabio Dias disse...

ótima análise!

Chrystian Wilson Pereira disse...

Gosto muito das sempre coerentes análises que você faz, mas fiquei intrigado com um dado que você lança: "há um certo consenso de que a História começou, no conceito humano, a partir do século 13 a.c.". Com que fundamento científico você afirma isso? E como que há certo "consenso" em relação a esta baliza, sendo que esta é uma discussão infindável? Você realmente entende muito de dramaturgia, mas falta pesquisar mais sobre História ou Antropologia. Creio que não estás afinado às perspectivas mais contemporâneas, que consideram história não somente os "grandes" eventos e personagens, mas tudo que se refere à identidade do ser humano em função do tempo, ou seja, também as mudanças em relação à sexualidade, ao cotidiano, à vida privada, ao consumo e à estética, aos conflitos que tanto são abordados nas telenovelas. Acho que o seu artigo está equivocado neste aspecto, apesar de bem intencionado. A sua leitura de "Lado a Lado" também me incomoda. Você fala como se um produto redondinho e muito bem feito como essa novela das 18h fosse um desserviço à sociedade. Um exagero, ao meu ver.

@tvxtv disse...

Chrystian

Acho que não me fiz entender a respeito do século 13 a.C. Existem diversos estudos antropológicos sobre a formação do homem enquanto sociedade, com leis, tratados e regras que datam deste século. De fato, não sou profundo conhecedor de Antropologia, mas todos os estudos que fiz (seja na faculdade ou na pós) o indicador era este.

E eu nunca disse que Lado a Lado prestou um desserviço à sociedade, mas afirmei que era um equívoco dramatúrgico. Uma ideia ousada, sim, mas que se mostrou errada.

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