sábado, 25 de maio de 2013

Teledramaturgia não é lazer, é entretenimento cultural

Desde que a TV produz dramaturgia a discussão existe e, certamente, irá perdurar por muitos anos. É uma questão complexa, afinal, envolve opiniões subjetivas e análises que vão além de prismas pessoais e devem passar por uma leitura da influência social que produtos de ficção tem diante de toda a comunidade de telespectadores.

Enxergar o público televisivo como uma grande massa que não raciocina de forma independente, mas absorve apenas tudo que vê diante da tela não parece ser o melhor caminho para quem tem a responsabilidade social e artística de transmitir algo para outrem. Ainda assim, há os que enxergam na teledramaturgia uma forma exclusiva de desafogo, de lazer, de passatempo. Estes, defendem que a população é tão sofredora que merece um refresco, se divertir e se emocionar sem ser obrigada a ficar raciocinando para compreender a proposta de nossas novelas e séries. É uma visão que deve ser levada em conta.

"Novela é feita para vender xampu", disse certa fez o novelista Aguinaldo Silva. Guardadas as proporções da frase de efeito dita pelo autor, é preciso observar que a novela é um produto que funciona dentro de uma empresa comercial que precisa de retorno financeiro para conseguir funcionar e continuar produzindo novos textos. Isso, contudo, não significa que para "vender xampu", a produção precisa necessariamente passar pelo raso e entrar no campo do puro lazer que não leva a lugar algum, apenas funcionando como um passatempo que mantém o público naquele torpor que não o faz pensar e não provoca nele reações importantes na construção da cidadania.

De fato, a teledramaturgia não tem como função fundamental educar. Mas entreter produzindo crescimento cultural é dever preponderante para quem se propõe a criar histórias ficcionais que serão assistidas pelas grandes massas. Quando uma obra - tanto novela quanto série - consegue ultrapassar a linha do lazer e invade o campo do entretenimento cultural, deve ser comemorado, pois é sinal que está conseguindo produzir algo que irá influenciar verdadeiramente seu público e, num país como o Brasil em que a TV auxilia mais que a escola, conseguir tal feito é de suma importância na construção de uma sociedade mais justa.

Uma novela como Amor à Vida que levanta uma importante discussão como o auto preconceito na homossexualidade e consegue levantar discussões pertinentes sobre o assunto, mostrando o preconceito da família, os medos e conflitos, leva o telespectador a refletir sobre sua postura diante daquelas situações. O resultado é uma geração que reflete sobre seus próprios problemas.

A Vida da Gente foi expert em levar o público a refletir seus conflitos e colocar em xeque suas próprias posturas ao se enxergar nos conflitos das personagens. Discussão semelhante é o que tem sido a toada de Sangue Bom, atual novela das 7. O público se sente representado não apenas através de questões polêmicas e externas, mas quando conflitos internos e traumas são mostrados, é importante para movimentar o raciocínio do público.

O que não contribui para este tipo de produção são os textos rasos e que não tem qualquer proposta fundamental para mexer com o telespectador, ou roteiros que primam pelo diálogo infantilóide ou com exceção de didatismo que prejudica o fluir do texto. Quem pensa em fazer televisão deveria participar da discussão e compreender que teledramaturgia não deve ser pensada como lazer, pois ela não serve para nada, mas quando se consegue levar ao ar um produto de entretenimento cultural, os resultados são muito mais densos e importantes para a sociedade.

3 Quebraram tudo:

Rodrigo Rocha disse...

Vou começar esse texto de uma forma diferente:

*Em Insensato Coração, a protagonista que até então morara fora do País, vem para o casamento da MELHOR AMIGA para ser MADRINHA DE CASAMENTO. Se apaixona pelo NOIVO DA MELHOR AMIGA sem saber quem é ele.
Lição: Só convide para o seu casamento quem tiver perfil em redes sociais ou celular que recebam fotos... "Em terra de Facebook, quem não tem um perfil é Capitão caverna"

*Em Avenida Brasil, Nina, a desbravadora, acha SEGURO(?!?) RETIRAR do banco seus MILHÕES, EM CASH... E IMPRIMIR cópias de FOTOS comprometedoras, deixando com pessoas ÒBVIAS... Ao invés de utilizar um Dropbox, um Google Drive ou, simples, anexar os arquivos em um e-mail. Sabe o que é isso, Nina?
Lição: Só crie uma protagonista inteligentemente vingativa se ele for intelectualmente desenvolvida para realizar sua vingança. "Em pendrive travado não entra mosquito... nem vírus"

*Em Amor à Vida, em um erro médico crasso, a Dra, Leona, a Cavalla, faz um PARTO NORMAL em uma paciente com sintomas problemáticos e sistemáticos de pressão alta. Quase uma mulher-bomba na mesa de cirurgia e a equipe médica, reduzida à OBstetra, Enfermeira, Instrumentista e ao Pai (claro, pois esse é mais importante que Anestesista, ou Cardiologista).
Lição: Se Jair Bolsonaro estivesse ali, diria que não seria operado por uma médica cotista.

O que quero dizer com isso Daniel, é que a novela só tem a responsabilidade de "fazer pensar" e ser lógica se o autor se levar a série e pensar primeiro. Noto, nas entrevistas e textos, que os próprios autores valorizam sua obra como reolucionária, transgressoras. Se veem como verdadeiros iconoclastas a cada novela. E na verdade, eles são retardatários de uma corrida que o público sempre vence. Não é preciso ser gênio para escrever novela... é preciso ser lógico.

@tvxtv disse...

Rodrigo

Sua lógica só faz sentido sob o ponto de vista da obviedade. Note que as obras culturais consideradas mais importantes tem elementos controversos. Hamlet, Madame Bovary, Dom Casmurro.

Olhar para uma obra e enxergar apenas o evidente, sem ler a subliminaridade torna-se lazer. entretenimento cultural é quando conseguimos ir além disso. A função do autor é colocar várias camadas em seu texto para que todos os públicos possam entender - cada qual em seu universo.

Rodrigo Rocha disse...

Amigo,

Só que a partir disso, você desconstrói todas as críticas à inventididade e liberdade lógica de Glória Perez. Se a novela é uma obra que se leva a sério (e coloco se, pois, temos N exemplos que nunca se levaram a sério e foram estrondosos sucessos), o primeiro passo é o autor levar a sua proposta lógica a sério. Não é questão de inteligência, mas sim de lógica.
Quando você diz que a novela é feita também para PENSAR, eu concordo totalmente. Só que antes de tentar fazer o público refletir, o autor deve refletir nas hipóteses da sua narrativa, coisa que não acontece hoje (e quando ocorrem, são achados dramatúrgicos).

E daí partimos pro conceito de obviedade. O que seria obviedade? Destatcar furos grotescos que colocam por terra o fio condutor da história? Um texto possui várias camadas, um furo de roteiro não. Se a inconsistência está ali, é porque não houve tempo hábil ou disposições suficientes para pensar nela como um problema a ser resolvido.

Uma novela só possui a capacidade de fazer refletir quando tridimensionaliza o cotidiando sob o prisma do discurso: eu dou como resposta ao meu receptor aquilo que ele não está acostumado a ter como resposta, causando a catarse. E, para isso, eu devo usar da lógica, da verosimilhança...

Você citou muito bem: A vida da gente. Fazia tempo (MUITO TEMPO) em que não via um texto TÃO primoroso na lógica da catarse, da discussão. Quem nunca se viu em uma situação em que abriu mão de algo em nome de outra pessoa? E quem nunca foi forçado a fazer o melhor para alguém e foi cobrado por isso? Isso é reflexão, isso é debate...
Avenida Brasil, no máximo, levantou um debate sobre Justiça x Vingança, deixa de lado após o segundo ato (coisa que a série Revenge faz muito bem, por sinal).
Os pontos que levantei são única e exclusivamente para salientar que os autores se levam mais a sério do que podem, abordam mais do que tem condições para... e acabam fazendo de suas novelas uma colcha de retalhos didática e óbvia.

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