segunda-feira, 25 de março de 2013

A eterna discussão entre qualidade e audiência fácil

Enquanto houver televisão ou qualquer outro meio de comunicação de massas a discussão será eterna. Debater e refletir sobre o que é produzido na TV brasileira não é tarefa das mais simples e exige uma visão ampla de diversos aspectos sócio-culturais. Fugir do óbvio e tentar contornar o preconceito são as tarefas mínimas para quem tenta entender o processo de produção no mercado televisivo nacional.

Existem, basicamente, dois pontos de vista nessa discussão. O primeiro é o de que a televisão, enquanto entretenimento, precisa levar ao ar exatamente aquilo que aponta ser o caminho natural que agrade seu público-alvo - o telespectador. A forma mais rápida de se descobrir quais os anseios deste público é através dos números de audiência - existem outros mecanismos um pouco mais complexos, mas que não entram na discussão. Ou seja, a forma mais evidente de se descobrir se determinado produto agrada ou não é verificando sua aceitação junto a audiência.

Este ponto de vista é defendido por aqueles que adoram lembrar a invenção do controle remoto. O argumento é de que o público é quem escolhe o que assistir. Se considera determinada produção ruim e de baixa qualidade - seja do ponto de vista do entretenimento ou cultural - ele é o senhor de si e de sua televisão, tendo a opção por escolher qualquer outra emissora. Para os que concordam com este ponto de vista, é preciso oferecer tudo ao telespectador e deixar que ele decida o que quer. Se ele escolheu um show com qualidade questionável, o problema talvez esteja nos críticos, pois a TV é feita para o público, não para a crítica.

Será? Existe um outro ponto de vista a se olhar. De fato, é inegável que TV é basicamente entretenimento - exceção ao jornalismo - e entretenimento é como lazer, quem pratica tem o direito de escolher o que quer. Mas televisão é muito mais que puro entretenimento, ela oferece tendência, faz parte da formação cultural e até moral da população porque atinge uma parcela grande da população. Afirmar que é apenas lazer é ser superficial e simplório demais na análise.

Quem produz TV deve levar em conta a responsabilidade social por trás de todos os produtos que vão ao ar. Essas pessoas são responsáveis por contribuir pela formação das pessoas. A TV aberta fundamentalmente é peça-chave na construção da mentalidade de uma sociedade, principalmente a brasileira em que a educação está muito longe de ser a ideal. O público-alvo da televisão brasileira não possui um senso crítico elevado e, justamente por isso, a responsabilidade de quem produz os shows se torna ainda maior.

Não se pode dar "o que as pessoas querem ver" sob este prisma. É como uma criança inocente que não sabe discernir nada e prefere comer doces o dia todo a ser alimentada de forma correta. Entretenimento que forma uma população doente, que vislumbra a exploração da desgraça alheia e que se diverte com quadros sensacionalista é corrosivo para a sociedade brasileira. Programas como o Teste de Fidelidade e boa parte do Programa do Gugu que continua explorando o caso do anão a exaustão contribuem apenas para formar uma população doente e sem nenhuma formação cultural.

Tanto o Programa do Gugu quanto o Teste de Fidelidade - e são apenas os dois exemplos mais evidentes - prestam um desserviço à sociedade brasileira. É bem verdade que eles vem conseguindo audiência interessante - enquanto o primeiro atingiu a liderança, o segundo é a principal audiência de sua emissora - mas a população brasileira não tem condições de escolher sozinha o que quer assistir, escolhendo com qualidade, é preciso responsabilidade social e esses shows não têm nenhuma responsabilidade. São apenas show de horrores em busca de audiência fácil, ainda que isso contribua para fazer do Brasil um país ainda pior.

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