quarta-feira, 13 de março de 2013

A difícil arte de compôr uma mocinha

O sonho de qualquer atriz certamente é se transformar na protagonista de uma novela. Seja por conta do reconhecimento óbvio de seu trabalho, que garante a ela o principal posto entre as personagens na trama, seja por motivos menos artísticos, como a garantia de um interessante aumento salarial ou mesmo por conta de outros trabalhos que este posto vislumbra - como maior oportunidade em comerciais, entre outras coisas. Mas, esquecendo todos estes atributos e focando exclusivamente sob o prisma artístico, a arte de se criar uma mocinha é bastante complexa.

Normalmente as atrizes dão conta do recado e chegam ao final com toda a torcida do público para que o "felizes para sempre" ao lado do amado aconteça no último capítulo. Mas é uma trilha árdua. A personagem corre o risco de ser rejeitada por parte da audiência porque normalmente é passiva demais e sofre sem agir, ao contrário da vilã que quase sempre movimenta o folhetim e acaba caindo nas graças do telespectador imediatamente.

Mas há de se culpar também a produção por conta disso. Além de roteiros que, muitas vezes, contribuem para que o telespectador se irrite a priori com as mocinhas, há a composição das atrizes que, ainda sem dominar completamente a personagem, escorregam no início de um trabalho. Com poucas cenas nas mãos, apenas com uma sinopse e sem muitas possibilidades para criar sua protagonista, é preciso um imenso talento para conseguir compôr de forma redundante, ainda que o roteiro não contribua para isso. Um grande talento que supera os obstáculos logo no início é raro de ser construído.

Comum mesmo são os equívocos de composição que comprometem o trabalho e geram distanciamento de público e protagonista. Grazi Massafera é o exemplo atual dessa máxima. A atriz, dona de bons trabalhos anteriores, parece ter errado completamente a mão ao compôr sua mocinha em Flor do Caribe. Com voz melosa, quase infantil, olhar sempre mirando o horizonte e demonstração de fragilidade corporal, a atriz apresentou uma personagem que mais caminha para causar enjoo na audiência que propriamente torcida.

A falta de experiência da atriz é, provavelmente, o grande obstáculo neste caso. O roteiro do novo folhetim das 18 Horas não contribui e somente uma profissional experimentada conseguiria driblar os obstáculos que o próprio texto impõe. E ela não é a pioneira com este problema. Vale lembrar que Débora Secco quando protagonizou América sofreu do mesmo mal e levou tempo até se encontrar na pele de Sol.

Por mais complicado que seja apresentar uma mocinha que convença e envolva o público, não é impossível. A aposta de Glória Perez em Nanda Costa para protagonizar Salve Jorge mostrou-se correta, embora arriscada. A atriz sempre conduziu bem sua personagem e, desde o início foi a dona da situação em suas cenas. Mas um exemplo forte de excelente composição se deu na trama anterior do horário das 21 Horas. Com uma vilã de força inexorável desde a primeira cena, uma criança de talento raro no papel da protagonista, a primeira fase de Avenida Brasil construiu uma armadilha e tanto para Débora Falabella. Pois a atriz construiu uma Nina impecável e, desde a primeira cena, mostrou ter talento de sobra para compôr sua personagem e manter a torcida do público.

A arte de compôr uma mocinha não é fácil e não é para todas as atrizes. Por mais que os autores estejam apostando em atrizes menos experimentadas, é preciso cuidado. Ser protagonista duma novela é uma tarefa árdua e que exige muito de uma profissional. Mesmo com talento a pergunta que precisa ser feita é: "esta profissional consegue driblar as armadilhas do protagonismo?"

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