sábado, 15 de dezembro de 2012

As Telenovelas são de atrizes?

Se tentarmos fazer uma reflexão sobre a arte de atuar e a indústria mercadológica que esta profissão criou, iremos perceber alguns elementos muito importantes, mesmo que num olhar abrangente para o mundo todo e não apenas no Brasil. Cada vez mais há uma clara tendência de se perceber destaques em atuação diferentes para cada área, o que pode se tornar um problema daqui há alguns anos e limitar bastante o campo de trabalho destes profissionais.

Está claro que no Cinema Mundial os grandes destaques são os atores. Por mais que hajam mulheres que fazem composição por vezes brilhantes - como Meryl Streep - é impossível tentar comparar o grau de destaque. As premiações cada vez mais deixam claro que o segundo prêmio mais importante - depois de melhor filme - é o de melhor ator. É como se a crítica de Cinema considerasse os homens peça fundamental na engrenagem para a produção de um bom filme.

O teatro, aparentemente mantém isso bem dividido. Seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo, ainda há espaço para homens e mulheres. O grande problema, talvez, é que este tipo de arte segue a tendência do início do novo milênio e cada vez mais se torna um veículo para uma nata, uma elite intelectual que se dispõe a assistir uma peça.

Chegamos, finalmente, às telenovelas. Se no resto do mundo as produções há bastante tempo priorizam as atrizes - veja as novelas mexicanas - o Brasil parece ter adotado essa tendência com uma força incomparável. Antes, o país sempre acompanhava uma dupla muito forte, seja a mocinha e o mocinho ou o casal de vilões. Fato é que sempre havia personagens masculinos tão fortes quanto os femininos. Não mais.

No principal horário de telenovelas do país, às 21 Horas, percebe-se isso há algum tempo. A Favorita contou a história de duas mulheres, Caminho das Índias mostrou a dor de uma mulher perdida em meio a sua cultura, Viver a Vida acompanhou o drama de uma mulher que ficava paralítica, Passione apresentou uma vilã perversa em que tudo girava em torno dela, Insensato Coração levou ao público a história de uma mulher movida pelo ódio ao seu algoz, Fina Estampa conduziu a história de duas mulheres que se odiavam, Avenida Brasil contou a história de uma mocinha capaz de tudo por vingança e de uma vilã inescrupulosa e, agora, Salve Jorge apresenta uma mocinha enganada e traficada.

Óbvio que todas essas tramas tiveram mocinhos, tiveram vilões, mas sem a mesma força das personagens femininas. É um dado curioso notar que ano após ano em premiações as melhores atrizes se tornam a principal categoria, por vezes, mais festejadas que propriamente a categoria de melhor novela que, teoricamente, é a mais importante.

Atualmente as três novelas no ar fazem com que atrizes se destaquem. Lado a Lado é uma vitrine de boas atrizes, Patrícia Pilar, Camila Pitanga, Marjorie Estiano. Guerra dos Sexos apresenta uma Glória Pires inspirada, assim como Mariana Ximenes muito bem e um destaque positivo para Luana Piovani. E Salve Jorge, além da protagonista já citada, há o destaque para Totia Meireles, roubando a cena como vilã. 

E 2012 já foi o ano de uma atriz, Adriana Esteves foi endeusada como raras vezes se viu neste país por conta de sua composição brilhante como vilã. O último grande momento de um ator no Brasil, em que ele se tornou o principal nome de interpretação foi, provavelmente, com Paraíso Tropical, em que Wagner Moura deu show.

A tendência é de que as telenovelas se foquem cada vez mais em atrizes? No ano em que a Globo levou ao ar a novela Guerra dos Sexos, é possível afirmar que há uma espécie de guerra entre homens e mulheres e que elas estão levando vantagem para ganhar destaques no folhetim? Difícil afirmar que o futuro será assim, mas parece claro que este é a fotografia do presente.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Roteiro atrapalha que Lívia seja, de fato, vilã

É visível, quase palpável, a significativa melhora de Salve Jorge nas últimas três semanas. Desde o momento em que o texto começou a preparar as situações para que o núcleo mais chamativo - o do tráfico de mulheres - se encontrasse com o núcleo principal, ao colocar Morena (Nanda Costa) como uma das traficadas, a novela entrou de vez nos eixos e, a cada capítulo, só melhora, mesmo nos outros núcleos que parecem melhor organizados.

Contudo, quem parece se manter fora dos eixos da linha narrativa do folhetim é a principal vilã da história, Lívia (Cláudia Raia). Uma enxurrada de críticas respingou na atriz desde a estreia, o que eu discordo. Cláudia vem bem no papel desde sua primeira cena, contudo, é preciso observar que o texto não colabora com ela desde o primeiro momento e, aparentemente, a situação só piora. Ao que parece, houve um erro de cálculo de Glória Perez, autora da obra, e também da direção no momento de criar as nuances de Lívia para que ela fosse tida como a grande vilã dessa obra.

Num primeiro momento, a chefe da quadrilha de tráfico de mulheres foi pintada da forma correta. Uma mulher que não suja as mãos, apenas comanda uma importante e internacional rede de tráfico de pessoas, mulheres para prostituição e venda de bebês. Porém, Lívia nunca foi colocada em situações que realmente a mostrassem com o poder que lhe cabia. Sempre circulando entre os ricos e bondosos da novela com frases de efeito para mostrar que ela é sem escrúpulos, a personagem mais falava do que fazia. Quando contracenava com Wanda (Totia Meirelles), ela se mostrava mais amiga do que chefe. Erro do texto, não da atriz.

Aparentemente - e é impossível afirmar com certeza sem ouvir a autora - percebeu-se que Lívia estava sendo deixada de lado por Wanda, a verdadeira vilã da novela até o momento - também graças ao brilhante trabalho de Totia - e essa semana algumas cenas diferentes começaram a ir ao ar. Se foi mudança no perfil do texto ou não, não importa, ocorre que a tentativa de corrigir um erro acabou criando outro, muito pior e que descaracteriza a personagem.

Cenas dessa semana mostraram Lívia indo buscar dois bebês, dirigindo por praticamente todo o Rio de Janeiro com esses bebês no carro, levando-os para seu quarto num importante hotel, passando a noite cuidando das crianças para, no fim, entregá-los aos pais adotivos que compraram as crianças traficadas. Toda a intenção dessa sequência foi claramente para mostrar o caráter vilanesco da personagem e fazer com que o público a odeie, tal qual odeia Wanda. Tiro no pé.

Lívia, como líder dessa Rede Internacional de Crimes, jamais poderia ser colocada em situações assim. Numa comparação estapafúrdia, seria como Fernandinho Beira Mar ir a um Morro qualquer, parar num beco e ficar vendendo drogas. Não funciona assim. O líder de uma Rede deste nível jamais se exporia a uma situação assim e tudo soou tão falso, tão mentiroso, que piorou a situação de Lívia junto ao público.

A personagem precisa urgentemente de uma identidade. Ela precisa ser tida como uma entidade superior, intocável e que comanda toda a Rede com mão de ferro. Para isso, é preciso que a autora crie situações de liderança, que obriguem Lívia a mostrar sua autoridade junto a seus funcionários. Uma das poucas cenas realmente convincentes da personagem, foi a ousadia de colocar uma câmera para saber tudo que ocorre no escritório de advocacia para descobrir se era investigada. São de situações assim que a vilã precisa para ser vista como a poderosa líder. Do contrário, ou ela fica descaracterizada ou a tendência é continuar à sombra de Wanda.

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