A minha intenção era não falar sob nenhuma circunstância com referência às críticas que Avenida Brasil vem sofrendo nos últimos dias. Para algumas pessoas, a trama do horário das 21 Horas, em sua penúltima grande virada - ocorrida nesta semana - sofreu com um grande furo. O fato de Nina (Débora Falabella) ter apenas cópias impressas das fotos comprometedoras contra Carminha (Adriana Esteves) e não tê-las de forma digitalizada está gerando grande polêmica entre os críticos e o próprio público nas redes sociais.
A decisão em falar do assunto, contudo, veio ao perceber que tanto telespectadores quanto críticos para esquecerem-se que um dos alicerces de uma obra de dramaturgia não é sentar-se sob o que é real, mas sob o que é verossímil. A diferença fundamental entre ambos é que o real é aquilo que estamos acostumados no nosso cotidiano e o verossímil é a realidade dentro do contexto da história e não no contexto "do mundo real".
Evidente que Nina foi ingênua. Evidente que o correto seria ela ter muito mais do que apenas 04 cópias destas fotos. Mas é preciso compreender a mente humana da personagem para tentar fazer quaisquer tipos de críticas do ponto de vista do roteiro da obra. Veja que Nina, ainda enquanto Rita (Mel Maia) viveu de rompantes. Fazia tudo para desafiar a madrasta no primeiro capítulo da novela e de forma proposital. Assim que soube que o pai seria enganado, não pensou duas vezes e correu pelas ruas do bairro para localizar Genésio (Tony Ramos) e salvá-lo do golpe que a esposa e o amante Max (Marcelo Novais) planejavam.
Ao perder o pai e ser jogada no lixão, a menina continuou em rompantes. Tentou avisar Tufão (Murilo Benício) que ele seria vítima de Carminha, indo até o estádio novamente sozinha. Adotada por argentinos, a menina continuou obsessiva em seu desejo de justiça e vingança. Nina voltou para o Brasil para se vingar de Carminha, mas não planejou o que faria, não arquitetou, não pensou em nada. Apenas se infiltrou na mansão e começou um estranho relacionamento de amor e ódio com a ex-madrasta.
Veja que a personagem é de rompantes. Decidiu e faz. Foi exatamente isso. Ao ser dona das fotos, Nina jamais teve a intenção de mostrá-las para Tufão, primeiro porque queria mesmo era se divertir às custas do sofrimento da rival. em seguida, porque se envolveu demais com a família e não queria que ninguém sofresse. Uma pessoa de rompantes jamais se preocuparia com cada detalhe de um plano. Para ela, era simples: como Carminha descobriria que as fotos estavam com Betânia? Porque eram amigas, mas daí a recuperar, outra história. Como Carminha descobriria que as fotos estavam com Begônia? Porque eram irmãs, mas como chegar até a irmã argentina de Nina? Como Carminha descobriria que as fotos estavam com Débora se ambas se detestavam? Ainda assim, havia uma outra cópia, num cofre de banco. Impossível que Carminha recuperasse todas as cópias.
Não havia necessidade, na cabeça da personagem, em colocar fotos digitalizadas, que, aliás, seria um perigo, visto que poderia cair na Rede, como já vimos em casos reais. Nina não abandonou a tecnologia, ela apenas moveu-se pelo rompante e não se precaveu por todos os lados. Não foi a primeira vez que a personagem fez isso, faz parte do jeito dela.
Os acontecimentos da virada, portanto, foram extremamente verossímeis porque, dentro do contexto de Avenida Brasil, a personagem nunca se preocupou em manter o senso lógico ao tomar uma decisão para se vingar da rival. O autor João Emanuel Carneiro seguiu a coerência baseando-se na personalidade criada para sua mocinha. Simples assim.