quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Top 15: As melhores cenas de 2012

Todo ano este blog faz as melhores cenas que foram ao ar no respectivo ano na teledramaturgia nacional. Normalmente é um top 10, mas em 2012, por conta da quantidade absurda de boas cenas, tornar-se-ia uma tarefa hercúlea e injusta escolher apenas dez. Então, seguindo a sugestão de uma amiga, resolvi fazer um top 15, ainda que apareça as 10 melhores, vale frisar que o top 15 foi feito para que todas possam figurar na lista. Eis as melhores cenas de 2012:

15ª - Revelação de que Dorotéia já foi Quenga - Gabriela


Gabriela pode não ter tido o mesmo destaque e a qualidade ímpar de sua antecessora, porém, é preciso salientar que houve bons momentos. A personagem Dorotéia ( Laura Cardoso) facilmente entra pro hall dos melhores trabalhos de sua intérprete. A revelação de que a personagem já foi quenga e que, portanto, sua vida de beata que julga tudo e todos e que preza pelos bons valores não passava de hipocrisia foi uma das mais marcantes de toda a novela de Walcyr Carrasco.

14ª Morte de Verbena - Amor Eterno Amor


Elizabeth Jhin não foi tão feliz em sua segunda telenovela retratando o tema espírita. Muito didática, a obra acabou cansando o público e em alguns momentos apresentava núcleos confusos e que diziam muito mais respeito a quem professava a fé espírita do que ao público em geral. Ainda assim, a cena em que Verbena (Ana Lúcia Torre) morre é de uma leveza que impressionou. Direção muito bem feita e atuação impecável do elenco em cena.

13ª Casamento de Rita e Batata - Avenida Brasil


A novela que parou o Brasil como a muito não se via já dava sinais de que seria uma obra-prima da teledramaturgia nacional em seus primeiros capítulos. A forma como João Emanuel Carneiro construiu a história de amor entre Rita (Mel Maia) e Batata (Bernardo Simões) num lixão foi toda inspiradora, lembrando contos de fadas que emocionavam. O casamento das duas crianças foi um dos momentos mais lindos da TV em 2012.

12ª  Em julgamento, Coronel Jesuíno confessa amar Sinházinha - Gabriela


Além de Laura Cardoso, outro nome que certamente agradece a Deus por ter trabalhado em Gabriela é José Wilker. No papel do machista e lascivo coronel Jesuíno, o ator teve dos melhores momentos da TV brasileira no ano. Além de cenas realmente divertidas, ele protagonizou cenas fortes e que exigiam muita dramaticidade. Foi o caso do momento em que ele reconhece amar Sinházinha (Maitê Proença) e explica que, mesmo a amando, teve de matá-la. Emocionante.

11ª Morena descobre que foi enganada e agride Wanda - Salve Jorge


A nova novela de Glória Perez ainda não pegou. Enfrentando todos os problemas externos que um folhetim poderia, a trama está longe de cair no gosto popular e sofre com críticas - algumas justas e outras nem tanto. Mas é impossível negar que a sequência em que a protagonista Morena (Nanda Costa) descobre que foi enganada e caiu em uma armadilha sendo traficada para prostituir-se na Turquia e, por isso, agride violentamente Wanda (Totia Meirelles) seja das melhores coisas que a TV brasileira viu em 2012.

10ª Após afundar o barco, Carminha chora por Max - Avenida Brasil


A melhor novela do ano. A melhor personagem do ano. Carminha (Adriana Esteves) em um de seus muitos atos insanos decide se livrar de seu comparsa Max (Marcelo Novaes) para se safar mais uma vez. Após afundar o barco do vilão, a personagem relembra que eles formavam uma dupla e tanto, mostrando que provavelmente ele foi a única pessoa que Carminha amou de fato, a vilã chora o que ela acreditava ser a morte de seu companheiro de anos. Um dos muitos momentos incríveis dessa novela.

9ª Cida se demite e se transforma em Empreguete - Cheias de Charme


Cheias de Charme veio para mostrar que é possível fazer uma trama leve, bem humorada e com qualidade, sem precisar apelar para o filão do humor fácil e bobo. A novela se transformou em febre e, não fosse o fenômeno de Avenida Brasil, certamente seria o folhetim do ano. Nesta cena, Cida (Isabelle Drummond) finalmente se livra da tirania dos Sarmentos, se demite e se transfigura em empreguete, com o apoio das duas amigas. Cena muito marcante.

8ª Nina faz tortura psicológica com Carminha - Avenida Brasil


Um dos momentos mais sensacionais da trama de João Emanuel Carneiro foi a semana da virada em que, Nina (Débora Falabella) se transfigura numa espécie de vilã e despeja todo o seu ódio e rancor contra a mulher que havia destruído sua vida, Carminha (Adriana Esteves). Foi uma semana inteira com cenas fortes e cheia de ótimos momentos. Um desses, é quando a protagonista exige que a vilã lhe sirva, mostrando que virou o jogo e que é ela quem manda.

7ª Clipe Vida de Empreguete - Cheias de Charme


Além de toda a qualidade que a trama apresentou, Cheias de Charme inovou ao juntar de forma real pela primeira vez o mundo da TV com o mundo da internet. Ao criar um viral dentro da narrativa da novela em que as 03 protagonistas gravam um clipe que cai na internet e, lança-lo primeiro na internet de fato, e não na TV, a novela ousou e mostrou funcionar. Vida de Empreguete se transformou num dos vídeos mais acessados do ano e rapidamente virou hit por todo o Brasil. E o clipe é de uma qualidade ímpar.

6ª Sequência da Morte de Max - Avenida Brasil


A morte de Max (Marcelo Novaes) nem foi dos momentos mais importantes da novela. No fim das contas, ela serviu apenas para explicar o passado das personagens do lixão. Ainda assim, toda a sequência da morte e a cena que explica como se deu o assassinato do vilão foi espetacular, mostrando uma sintonia rara entre texto, direção e elenco. O jogo de terror imposto por João Emanuel Carneiro somente foi possível graças a primorosa e ousada direção que também extraiu o máximo que pôde do elenco envolvido.

5ª Lygia fica entre a vida e a morte - Cheias de Charme


Uma novela de humor não significa que não pode ter cenas dramáticas, ao contrário. E Cheias de Charme também mostrou competência quando precisou caminhar pelo melodrama. Ao escolher a única boa das patroas, Lygia (Malu Galli), para enfrentar uma doença com momentos de certeza de que a personagem morreria, os autores mostraram coragem. A sequência em que Penha (Taís Araújo) teme perder a amiga e a família sofre no hospital é impossível de conter as lágrimas.

4ª Nina e Carminha se perdoam - Avenida Brasil



"Não é vingança, Tufão, é justiça". Foi assim que Nina (Débora Falabella) definiu sua história de vida para Tufão (Murilo Benício) em dado momento. Após conseguir praticar o que ela acreditava ser justiça, quase destruído a própria vida e feito Carminha (Adriana Esteves) pagar e enxergar seus próprios erros, o último capítulo mostrou as personagens se compreendendo e deixando para trás a história amarga que as marcou tanto. Não foi exatamente uma reconciliação, foi um acerto de contas do bem. Linda cena.

3ª Monólogo de Carminha - Avenida Brasil


Que Carminha (Adriana Esteves) é das melhores personagens da história da TV ninguém duvida. Ela protagonizou dos melhores momentos que a teledramaturgia nacional já teve notícias e um desses momentos de rara felicidade foi o monólogo da personagem, bêbada e desiludida após descobrir que havia sido enganada por Nina (Débora Falabella) e Max (Marcelo Novaes). Cuspindo frases fortes de alguém com muita mágoa no coração, inclusive contra Deus, a personagem teve um de seus melhores momentos em toda a telenovela.

2ª Ana e Manuela brigam - A Vida da Gente


A Vida da Gente não fez propriamente sucesso nos números de audiência. Ainda assim, a extrema qualidade do folhetim que soube como poucas vezes fazer uma leitura correta da alma humana e provocava diariamente reflexões importantes sobre o relacionamento de cada um de nós, foi o ponto forte e a ótima surpresa. Um dos momentos mais aguardados da novela foi o embate entre Manuela (Marjorie Estiano) e sua irmã Ana (Fernanda Vasconcellos). Na sequência, as duas cuspiram uma contra a outra todas as mágoas guardadas por tempos e o público foi brindado com uma das melhores cenas do ano.

1ª Carminha enterra Nina viva - Avenida Brasil


Impossível fazer um top com as melhores cenas de 2012 e não colocar esta no topo. Até porque, certamente esta sequência aparecerá em qualquer top de melhores cenas da história da teledramaturgia. A ousadia com que João Emanuel Carneiro escreveu e a direção soube fazer a leitura correta da sequência foi impressionante. Lembrando dos melhores filmes de terror psicológico, a cena mostrou que a teledramaturgia nacional pode ousar e fugir do lugar-comum. Um dos momentos mais aterrorizantes que a TV teve notícias e com direito a show de Adriana Esteves e, neste caso, principalmente de Débora Falabella que entregou seu corpo, alma e espírito na sequência. De longe, a melhor cena não só de 2012, mas em anos.

Curioso para comparar? Então vamos la: Clique aqui e veja as melhores cenas de 2011

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os Perigos da Licença Poética

Muito mais do que crítico, sou um apaixonado pelas telenovelas. Quem acompanha este espaço sabe que sou um dos fãs do formato e tenta acompanhar o maior número possível dessas produções - ainda que muitas de qualidade duvidosa - é o que eu chamo de prazer em reconhecer os meandros e detalhamento que somente as novelas permitem.

Um dos elementos técnicos de um folhetim é a licença-poética. Muito utilizada pelos autores, ela é delicada e sempre insurge em discussões polêmicas entre os próprios dramaturgos, a crítica e, por vezes, os telespectadores mais atentos e críticos. Licença-poética é a o fato de Nina (Avenida Brasil) sacar um milhão de reais do Banco e sair com uma sacola de dinheiro; licença-poética é todo personagem que cai de escada morrer (Fina Estampa); licença-poética é personagens de outros países falarem em português, como é o caso das últimas novelas de Glória Perez e aqui inclui-se Salve Jorge. Uma observação é importante: não confundir licença-poética de uma obra que se propõe em ser realista com uma trama que trata de realismo fantástico. Açucena ressuscitar com um beijo de seu amor Jesuíno, em Cordel Encantado, não é licença-poética, é realismo fantástico.

Diante disso, é preciso saber utilizar a licença-poética de forma que ela não perca a coerência ao longo de todo um folhetim. Quando o autor lança mão desta técnica, ele precisa ampliar seu campo de visão e compreender que, para fazer sentido, o elemento precisa ser utilizado de forma que o telespectador compreenda que se trata de uma saída dramatúrgica sem que se comprometa toda a estrutura narrativa de sua produção.

No capítulo natalino (!) de Salve Jorge ocorreu um desses deslizes imperdoáveis por conta da tal licença-poética. Desde que a novela estreou a autora Glória Perez usou o artifício de que todas as personagens turcas falem a Língua Portuguesa. O recurso é obviamente aceitável, pois num veículo de comunicação de massas, no horário de maior visibilidade da TV brasileiro, não se pode exigir que o telespectador raso acompanhe toda uma história com legendas. Porém, para que a licença-poética faça algum sentido, ela precisa fazer parte da estrutura narrativa e não apenas quando convém.

E no capítulo da última terça-feira (25) houve um ruído grave nesta licença-poética que é emprestada pela autora em praticamente todos os seus trabalhos. Em todos os lugares da Turquia de Salve Jorge as personagens fala português, inclusive numa das vilas mais tradicionais, como se viu durante a visita de Bianca (Cléo Pires) que se relacionou normalmente com todos ali sem problema algum de comunicação, é a licença-poética funcionando como deve. Porém, o mesmo não ocorreu na sequência em que se viu Jéssica (Carolina Dieckmann) na delegacia. A personagem fugindo da quadrilha de Lívia (Cláudia Raia) foi parar numa delegacia e, para espanto geral, nenhum policial entendia o que ela falava e ela não entendia nenhum dos presentes, apenas um, servindo de escape para a cena fazer sentido, é que falava nossa língua.

Este é o típico deslize que não pode acontecer. Ou a licença-poética utilizada é abordada de forma coerente ou nada mais faz sentido e o telespectador fica sem compreender. Está certo que toda a sequência foi uma saída para que a personagem fosse presa e, em seguida, voltasse para as mãos da quadrilha, mas esta foi uma saída rasa e simplista que acabou por comprometer todo o trabalho técnico que vinha sendo utilizado de forma coerente. Aparentemente, na Turquia de Glória Perez, apenas os policiais falam turco e não entendem português. Uma pena porque comprometeu um capítulo quase impecável.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Pai Demlo Ataca: Novelas 2013

E o Pai Demlo está de volta (saravá, meu filho). Depois do sucesso estrondoso e da quantidade espantosa de acertos que este ser espiritual que vos fala obteve no final de 2011, decidi resgatar este "quadro" do blog para o fim de 2012. E 2013 promete muito em novidades para as telenovelas brasileiras, então Pai Demlo prevê:

Globo:

Flor do Caribe - 18 Horas

Walter Negrão está de volta e, ao que parece, disposto a retomar sucessos como Tropicaliente. Com elenco interessante, tendo Grazzi Massafera como protagonista, além de nomes como Henri Castelli, Dudu Azevedo, José Loretto e Débora Nascimento, a trama não parece ter força suficiente para reconquistar a audiência para o horário. A novela certamente não será ruim, pois o autor sabe fazer folhetins leves e interessantes para o horário, mas não será nada de extraordinário e não alcançará a meta de audiência.

O Pequeno Buda - 18 Horas

Duca Rachid e Thelma Guedes novamente no horário das 18 Horas. A dupla responsável pelo último grande sucesso do horário com Cordel Encantado retorna para enfrentar um horário delicado. Com previsão de estreia para o segundo semestre, a novela vai enfrentar o terror chamado horário de verão e certamente irá sofrer por isso. A tirar pelo talento que as autoras demonstraram ter, pela criatividade em envolver elementos de forma homogênea e pelo elenco parcial divulgado - Bruno Gagliasso, Mariana Xiemenes e Nathália Dill - a novela deve ir bem. Dificilmente repetirá o sucesso da trama anterior das autoras, mas a aposta é para um média que chegue bem perto da meta.

Sangue Bom - 19 Horas

O trabalho fino e minucioso de uma das melhores dramaturgas do Brasil dará o ar da graça em 2013. Depois de anos de ausência com um trabalho inédito, Maria Adelaide Amaral continua no horário das 19 Horas - depois do sucesso com o remake de Tititi - e agora com uma obra própria, dividindo a autoria com Vincent Villari. O talento da autora dispensa comentários, embora seja sua primeira novela inédita (de inédito, apenas minisséries), é possível afirmar sem medo de errar que o folhetim irá dar novo fôlego ao horário e se manterá na meta de audiência para o horário. 

Em Nome do Pai - 21 Horas

A primeira novela de Walcyr Carrasco no principal horário da teledramaturgia nacional é uma incognita. Dono das melhores audiência - comparando a meta à média geral - o autor chega ao horário com uma história que, ao que tudo indica, será muito polêmica e cheia de meandros. Com bom elenco, tendo nomes de peso como Antônio Fagundes e Ary Fontoura, além do primeiro vilão de Mateus Solano, a novela deve cair na boca do povo por conta das polêmicas que irá levantar. É bastante provável que Walcyr não decepcione nos números de audiência, mas também parece improvável que ele seja unânime entre os críticos. A novela chegará perto da meta, mas não será elogiada.

Saramandaia - 23 Horas

Apenas a terceira novela do novo horário estabelecido pela Globo. Após o sucesso de crítica de O Astro e a boa repercussão de Gabriela, chegou a vez deste remake pelas mão de Ricardo Linhares. A controversa obra, sucesso quando exibida pela primeira vez, não é uma trama para ter meio termo. Ou ela será um sucesso estrondoso ou um retumbante fracasso. Infelizmente, Pai Demlo não aposta no sucesso, ainda que a novela tenha nomes como Cláudia Jimenez e Fernanda Montenegro. Será o primeiro fracasso do horário.

Record

Dona Xepa - entre 06h00 e 00h00

Ninguém sabe qual o horário desta novela porque ninguém pode garantir qual a grade da Record sequer para amanhã, quanto mais para o ano que vem. Gustavo Reiz é o novelista responsável por inaugurar o que parece ser o segundo horário de telenovelas da emissora. Inaugurar porque trata-se de um horário reservado para novelas de pequeno porte, essa terá 90 capítulos. Com elenco constrangedor que reúne metade da turma dos Rebeldes, é certo que esta novela será o que há de mais vergonhoso para a teledramaturgia nacional em 2013. Sem audiência, sem repercussão e com cenas abaixo de qualquer crítica.

Novela de Carlos Lombardi - entre 18h00 e 00h30

Impossível prever também em qual horário entrará esta trama. Prevista para substituir Balacobaco que também já dançou no horário mais que bailarinos do Dança dos Famosos, a primeira novela de Carlos Lombardi fora da Globo deve estrear ainda no primeiro semestre de 2013. Pouco se sabe da história desta novela ou de seu elenco. Mas conhecendo o autor, é provável que encontremos uma trama recheada de humor e com situações tão bizarras que chegam a divertir. O grande problema será a direção, incapaz de captar a mensagem de um autor como Lombardi. Por isso, a aposta é em números fracassados de audiência.

SBT

Chiquititas - 20h30 se o Sílvio Santos deixar

Depois do astronômico sucesso com a versão brasileira de Carrossel, o SBT quer investir neste filão. Para tal, optou-se pelo remake de Chiquititas. Engana-se, porém, quem acredita que a estratégia seja equivocada, não é. O público de Carrossel estará envelhecido um ano e certamente Chiquititas é uma boa escolha, pois é uma trama um pouco menos infantil, além de dar a oportunidade das personagens crescerem junto com o público. Íris Abravanel será a responsável pelo roteiro, o que é um problema, pois a autora não terá descanso e manterá o enfoque no mesmo público, o que pode ser prejudicial. Ainda assim, Pai Demlo aposta que Chiquititas fará ainda mais sucesso que a atual novelinha.

sábado, 15 de dezembro de 2012

As Telenovelas são de atrizes?

Se tentarmos fazer uma reflexão sobre a arte de atuar e a indústria mercadológica que esta profissão criou, iremos perceber alguns elementos muito importantes, mesmo que num olhar abrangente para o mundo todo e não apenas no Brasil. Cada vez mais há uma clara tendência de se perceber destaques em atuação diferentes para cada área, o que pode se tornar um problema daqui há alguns anos e limitar bastante o campo de trabalho destes profissionais.

Está claro que no Cinema Mundial os grandes destaques são os atores. Por mais que hajam mulheres que fazem composição por vezes brilhantes - como Meryl Streep - é impossível tentar comparar o grau de destaque. As premiações cada vez mais deixam claro que o segundo prêmio mais importante - depois de melhor filme - é o de melhor ator. É como se a crítica de Cinema considerasse os homens peça fundamental na engrenagem para a produção de um bom filme.

O teatro, aparentemente mantém isso bem dividido. Seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo, ainda há espaço para homens e mulheres. O grande problema, talvez, é que este tipo de arte segue a tendência do início do novo milênio e cada vez mais se torna um veículo para uma nata, uma elite intelectual que se dispõe a assistir uma peça.

Chegamos, finalmente, às telenovelas. Se no resto do mundo as produções há bastante tempo priorizam as atrizes - veja as novelas mexicanas - o Brasil parece ter adotado essa tendência com uma força incomparável. Antes, o país sempre acompanhava uma dupla muito forte, seja a mocinha e o mocinho ou o casal de vilões. Fato é que sempre havia personagens masculinos tão fortes quanto os femininos. Não mais.

No principal horário de telenovelas do país, às 21 Horas, percebe-se isso há algum tempo. A Favorita contou a história de duas mulheres, Caminho das Índias mostrou a dor de uma mulher perdida em meio a sua cultura, Viver a Vida acompanhou o drama de uma mulher que ficava paralítica, Passione apresentou uma vilã perversa em que tudo girava em torno dela, Insensato Coração levou ao público a história de uma mulher movida pelo ódio ao seu algoz, Fina Estampa conduziu a história de duas mulheres que se odiavam, Avenida Brasil contou a história de uma mocinha capaz de tudo por vingança e de uma vilã inescrupulosa e, agora, Salve Jorge apresenta uma mocinha enganada e traficada.

Óbvio que todas essas tramas tiveram mocinhos, tiveram vilões, mas sem a mesma força das personagens femininas. É um dado curioso notar que ano após ano em premiações as melhores atrizes se tornam a principal categoria, por vezes, mais festejadas que propriamente a categoria de melhor novela que, teoricamente, é a mais importante.

Atualmente as três novelas no ar fazem com que atrizes se destaquem. Lado a Lado é uma vitrine de boas atrizes, Patrícia Pilar, Camila Pitanga, Marjorie Estiano. Guerra dos Sexos apresenta uma Glória Pires inspirada, assim como Mariana Ximenes muito bem e um destaque positivo para Luana Piovani. E Salve Jorge, além da protagonista já citada, há o destaque para Totia Meireles, roubando a cena como vilã. 

E 2012 já foi o ano de uma atriz, Adriana Esteves foi endeusada como raras vezes se viu neste país por conta de sua composição brilhante como vilã. O último grande momento de um ator no Brasil, em que ele se tornou o principal nome de interpretação foi, provavelmente, com Paraíso Tropical, em que Wagner Moura deu show.

A tendência é de que as telenovelas se foquem cada vez mais em atrizes? No ano em que a Globo levou ao ar a novela Guerra dos Sexos, é possível afirmar que há uma espécie de guerra entre homens e mulheres e que elas estão levando vantagem para ganhar destaques no folhetim? Difícil afirmar que o futuro será assim, mas parece claro que este é a fotografia do presente.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Roteiro atrapalha que Lívia seja, de fato, vilã

É visível, quase palpável, a significativa melhora de Salve Jorge nas últimas três semanas. Desde o momento em que o texto começou a preparar as situações para que o núcleo mais chamativo - o do tráfico de mulheres - se encontrasse com o núcleo principal, ao colocar Morena (Nanda Costa) como uma das traficadas, a novela entrou de vez nos eixos e, a cada capítulo, só melhora, mesmo nos outros núcleos que parecem melhor organizados.

Contudo, quem parece se manter fora dos eixos da linha narrativa do folhetim é a principal vilã da história, Lívia (Cláudia Raia). Uma enxurrada de críticas respingou na atriz desde a estreia, o que eu discordo. Cláudia vem bem no papel desde sua primeira cena, contudo, é preciso observar que o texto não colabora com ela desde o primeiro momento e, aparentemente, a situação só piora. Ao que parece, houve um erro de cálculo de Glória Perez, autora da obra, e também da direção no momento de criar as nuances de Lívia para que ela fosse tida como a grande vilã dessa obra.

Num primeiro momento, a chefe da quadrilha de tráfico de mulheres foi pintada da forma correta. Uma mulher que não suja as mãos, apenas comanda uma importante e internacional rede de tráfico de pessoas, mulheres para prostituição e venda de bebês. Porém, Lívia nunca foi colocada em situações que realmente a mostrassem com o poder que lhe cabia. Sempre circulando entre os ricos e bondosos da novela com frases de efeito para mostrar que ela é sem escrúpulos, a personagem mais falava do que fazia. Quando contracenava com Wanda (Totia Meirelles), ela se mostrava mais amiga do que chefe. Erro do texto, não da atriz.

Aparentemente - e é impossível afirmar com certeza sem ouvir a autora - percebeu-se que Lívia estava sendo deixada de lado por Wanda, a verdadeira vilã da novela até o momento - também graças ao brilhante trabalho de Totia - e essa semana algumas cenas diferentes começaram a ir ao ar. Se foi mudança no perfil do texto ou não, não importa, ocorre que a tentativa de corrigir um erro acabou criando outro, muito pior e que descaracteriza a personagem.

Cenas dessa semana mostraram Lívia indo buscar dois bebês, dirigindo por praticamente todo o Rio de Janeiro com esses bebês no carro, levando-os para seu quarto num importante hotel, passando a noite cuidando das crianças para, no fim, entregá-los aos pais adotivos que compraram as crianças traficadas. Toda a intenção dessa sequência foi claramente para mostrar o caráter vilanesco da personagem e fazer com que o público a odeie, tal qual odeia Wanda. Tiro no pé.

Lívia, como líder dessa Rede Internacional de Crimes, jamais poderia ser colocada em situações assim. Numa comparação estapafúrdia, seria como Fernandinho Beira Mar ir a um Morro qualquer, parar num beco e ficar vendendo drogas. Não funciona assim. O líder de uma Rede deste nível jamais se exporia a uma situação assim e tudo soou tão falso, tão mentiroso, que piorou a situação de Lívia junto ao público.

A personagem precisa urgentemente de uma identidade. Ela precisa ser tida como uma entidade superior, intocável e que comanda toda a Rede com mão de ferro. Para isso, é preciso que a autora crie situações de liderança, que obriguem Lívia a mostrar sua autoridade junto a seus funcionários. Uma das poucas cenas realmente convincentes da personagem, foi a ousadia de colocar uma câmera para saber tudo que ocorre no escritório de advocacia para descobrir se era investigada. São de situações assim que a vilã precisa para ser vista como a poderosa líder. Do contrário, ou ela fica descaracterizada ou a tendência é continuar à sombra de Wanda.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Salve Jorge encontra seu caminho. E promete!

Por mais que este que vos fala discorde da opinião geral de que a primeira fase de Salve Jorge tenha sido das piores coisas da TV, é inegável que houve uma rejeição gritante para com a novela. Quando se há rejeição, cria-se uma espécie de birra e, por mais que haja um esforço de produção para melhorar os rumos do produto, as críticas continuam ecoando ainda por um tempo, principalmente quando elas são amparadas por números constrangedores de audiência.

Mas, verdade seja dita, nas últimas duas semanas, o folhetim das 21 Horas deu um salto de qualidade e tanto. A trama não era péssima, mas mostrava-se bastante arrastada numa espécie de Prólogo da História que a autora pretendia contar - a primeira fase com a protagonista ainda no Brasil e vivendo um romance com o mocinho. Independente disso, nas duas últimas semanas, com a preparação do roteiro para a primeira virada, o texto claramente ganhou agilidade, mesmo com diversos núcleos tudo foi se amarrando de forma mais clara e, a sensação de confusão que pairava nos primeiros capítulos, deixou de existir.

O capítulo de ontem foi, certamente, o primeiro a ser elogiado de forma quase unânime - quase porque a birra ainda permanece - e com razão. De longe, foi o melhor capítulo de Salve Jorge desde a estreia, mas não foi um momento solto e que não causa sequer esperança para o público. A autora preparou muito bem este momento de clímax criando situações importantes e que foram chamando a atenção do telespectador ao longo das últimas semanas.

O roteiro da novela vem muito bem amarrado e construiu uma relação forte que certamente irá agregar agora que a saga de sofrimento de Morena (Nanda Costa) finalmente começou. Enxergar, contudo, apenas a protagonista sendo inserida na trama mais atraente desde o início - o tráfico de mulheres - é simplificar. Todos os núcleos da novela se encorparam e ganharam vida, passaram a fazer sentido no contexto da história contada pela autora.

Mas é preciso frisar que o público sempre abraçou melhor o núcleo do tráfico. Por isso, olhando para trás, percebe-se que o Prólogo pretendido por Glória Perez tenha sido, talvez, o grande equívoco da autora. Tal qual Insensato Coração demorou quase 100 capítulos para construir a personalidade sórdida de Norma (Glória Pires) em sua vingança contra Léo (Gabriel Braga Nunes), arrastando a trama, em Salve Jorge foi desnecessário tantos capítulos para introduzir Morena ao núcleo do tráfico. Toda a história de amor entre ela e Théo (Rodrigo Lombardi) poderia ser contada de outra forma e bem mais rapidamente. A introdução - que serviu para construir a personalidade das personagens - acabou se tornando maior que o necessário.

Independente disso, está claro que não tivemos um capítulo solto. A história engrenou e isso é inegável. O roteiro tornou-se atraente e permitiu com que o elenco se destaque, como foi o caso de Totia Meireles e Nanda Costa. As duas protagonizaram uma excelente sequência nos dois últimos capítulos, desde a partida do Brasil, até a briga, já na Turquia. Nanda Costa, aliás, vem construindo uma protagonista dificílima e mostrando estar pronta para este árduo trabalho. A atriz vem fazendo bonito em cena.

Fato é que Salve Jorge encontrou seu caminho. Com a chegada de Morena a Turquia, o sofrimento da mocinha está apenas começando e a introdução para a história que a novela realmente pretende contar acabou. É hora de puxar a cadeira e acompanhar esse enredo que está apenas começando. E promete. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Luciana By Night eleva o patamar da apresentadora

Desde que estreou na TV há anos, Luciana Gimenez se transformou numa figura controversa. Assumindo o Superpop, até então comandado pela competente Adriane Galisteu, a ex-modelo e ex de cantor famoso mudou o formato do show e o transformou numa sucessão de bizarrices, ganhando o título de um dos piores programas da TV brasileira.

Com erros de português e frases que acusavam uma total falta de conhecimento do mundo, a apresentadora ganhou fama por, digamos, sua capacidade em mostrar-se menos inteligente do que a maioria, sendo satirizada por diversos meios de Comunicação. Ganhou até o apelido carinhoso de Lucianta, dado pelo colunista da Folha José Simão.

Mas nada a abalou e ela continuou desenvolvendo seu trabalho. Na estreia do Luciana By Night na noite da última terça-feira, todos - público e crítica - tiveram de assistir pasmados quem é verdadeiramente a apresentadora Luciana Gimenez. Dona de um carisma inconfundível e com uma capacidade de improviso bastante interessante, a apresentadora mostrou-se bastante confortável a frente deste formato, ao menos na estreia.

É bem verdade que não se pode fazer uma análise profunda de um talk show desse molde apenas pela estreia, principalmente se levarmos em consideração que, na Rede TV!, não há um programa que, no fim das contas, não exagere no estilo popularesco e ataque para o caminho do bizarro. Por este primeiro programa, contudo, não é o que parece.

Luciana Gimenez ficou absolutamente a vontade, mesmo nos momentos de improviso, como no stand up dos primeiros minutos. Durante a entrevista - aliás, um acerto levar Ana Hickmann, mostrando que o nível do programa é bem diferente do Superpop - ela mostrou-se segura, embora não tenha se aprofundado muito em nenhum tema importante.

A impressão que se deu foi que a apresentadora estava literalmente em sua casa recebendo amigos para uma pequena festa, não tão formal, mas longe da informalidade também. Luciana By Night serviu, nesta estreia, para mostrar que Luciana Gimenez tem talento nato e estava mal aproveitada, com o formato de um talk show de verdade, ela tem muito a crescer. Quando estiver mais segura e puder desenvolver melhor as entrevistas, é possível que ela possa tratar de temas ainda mais profundos, mas no momento, o que se viu, foi bastante elogiável.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Qualidade Técnica em detrimento do Roteiro

Novo milênio e novas descobertos técnicas para a arte. É assim que convivemos diariamente. A cada dia surgem novas perspectivas técnicas que visam dar um apuramento melhor nos mais variados tipos de arte existentes. Essa máxima de se preocupar com os detalhes e proporcionar o filé no campo técnico acaba por formular uma questão importante: a técnica ou o conteúdo? Sob o ponto de vista do público-alvo, qual das duas é a mais importante?

Vivemos dois paralelos importante ao tratar deste assunto. No campo da Literatura podemos destacar as obras de Paulo Coelho, escritor brasileiro mais bem sucedido no mundo atualmente. Como característica principal, ele não aceita que seus livros passem por revisão linguística. Segundo sua concepção, o texto quando finalizado pelo autor, deve ser publicado daquela forma para que não perca a magia do momento em que quem escrevia refletia. É uma opção que precisa ser respeitada, ainda que muitos discordem.

Na TV há um exemplo parecido. O SBT leva ao ar as últimas semanas da novela mexicana Maria Mercedes. Quando decidiu colocá-la em exibição, satisfeito com os números conquistados pelas outras duas tramas de Thalia, a emissora levantou uma questão que virou tema de debate. A primeira das Marias de Thalia foi gravada em meados da década de 90 e sua qualidade técnica estava bem abaixo das outras duas, e olha que todas elas já estão abaixo do que se vê atualmente na TV.

É evidente que tanto Paulo Coelho e seus livros quanto o SBT com a exibição de Maria Mercedes não chegam a entregar a seus públicos algo com erros crassos. A imagem da novela não é falha e não chega a incomodar a ponto de atrapalhar quem assiste para acompanhar a saga da protagonista. Mas é, indubitavelmente, abaixo do que se vê atualmente e do que o telespectador vem se acostumando.

É preciso compreender um pouco a dinâmica das produções para tentar analisar a questão. Os filmes hollywoodianos contam com um produtor-executivo, tal qual as séries de TV daquele país. Estes produtores são os responsáveis pelo todo do produto: escolha de elenco, cachês, patrocinadores, até questões técnicas, como escolha do diretor e estilo de fotografia, cenas, acústicas, externas. O produtor-executivo nem sempre é o roteirista da obra, é importante frisar.

No Brasil, a Rede Globo utiliza a figura deste produtor em sua grade. Trata-se do diretor de núcleo. Para as telenovelas, o diretor de núcleo não é o responsável direto por dirigir as cenas, mas é ele quem produz a obra. Ele é a voz da emissora para dar vazão ao produto. Com um papel um pouco diferente, pois não decide cachê, mas dá a palavra final na escalação do elenco, entre outras coisas.

A direção de núcleo avançou muito na Rede Globo e tornou-se responsável por um apuro técnico tão grande na teledramaturgia que, às vezes, chega a assustar. Veja o caso de Cordel Encantado, uma obra perfeita tecnicamente, com um novo estilo de uso de câmeras, fotografia impecável, figurinos dignos de nota, áudio e vídeos excelentes. Isto tornou-se parte do padrão Globo de Qualidade, tanto que este apuro técnico levou Araguaia a concorrer ao Emmy Internacional no ano passado, ainda que a novela não tenha sido, nem de longe, o grande destaque daquele ano na TV brasileira.

Atualmente vê-se essa preocupação técnica em Lado a Lado e também em Salve Jorge. Ambas as novelas são tecnicamente perfeitas, mas pecam quando o assunto é roteiro. E isso levanta a questão tratada no começo deste texto. São muitos os exemplos de obras tecnicamente perfeitas, mas que pecam no texto. Além das duas novelas já citadas, podemos lembrar de Avatar, filme de James Cameron que contou com diversas inovações tecnológicas, mas que acabou contando uma história aquém de todo o trabalho enquanto produção.

Num país como o Brasil, será que a preocupação técnica deve ser mais importante que o roteiro? É preciso lembrar que o diretor de núcleo não é o autor da novela e, aparentemente, tem menos liberdade sobre o roteiro do que um produtor-executivo americano. Mas é preciso que a emissora analise isso: não está na hora do roteiro ter o mesmo tipo de preocupação por parte de quem produz que a fotografia, os cenários e os figurinos estão recebendo? Vale a pena produzir uma obra plasticamente tão linda, mas com um texto tão pobre? Se tivesse que escolher entre uma novela linda visualmente, com texto fraco e com grande texto, mas tecnicamente apenas correta, o que o telespectador preferiria? É de se refletir.

Alessandra Negrini erra a mão em Lado a Lado

Como se sabe, eu não sou dos fãs mais entusiastas da atual novela das 18 Horas. Já falei repetida vezes dos diversos problemas que atrapalham a audiência de Lado e Lado e também acaba por ser uma produção toda equivocada. Porém, é de se mencionar a qualidade de elenco que conseguiu se reunir para trabalhar numa obra assim. É possível destacar diversos nomes - como Marjorie Estiano, Patrícia Pilar, Camila Pitanga, Thiago Fragoso e Lázaro Ramos - o cast da obra é, num geral, bom. Entre os nomes de peso aparece uma exceção: Alessandra Negrini.

A atriz é experiente e dona de um talento indiscutível. Sua última participação fixa numa novela havia sido em Paraíso Tropical quando ela assumiu a vaga de protagonista e vilã interpretando as gêmeas Paula e Taís, em substituindo Cláudia Abreu que já havia sido escalada para o papel, mas declinou por conta de uma gravidez. Já na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares a atriz não conseguiu o desempenho esperado, recebendo alguns elogios ao interpretar a vilã, mas sendo criticada pela mocinha.

Agora, cinco anos depois, Negrini retornou com uma personagem fixa em nova vilã - repetindo o que Patrícia Pilar fez, ao interpretar duas vilãs seguidas com Flora e Constância - e a composição de sua Catarina vem deixando bastante a desejar, destoando da qualidade do restante do elenco, principalmente se a comparação for em relação aos nomes de peso do folhetim.

Seria um equívoco colocar em pauta a capacidade de composição da atriz. Experiente, ela já se provou como grande profissional e não necessita passar pelo crivo de ninguém. Tem em seu currículo excelentes trabalhos como em A Muralha, JK e Desejos de Mulher com personagens que falam por si só. Mas é fato inegável que, em Lado a Lado, ela errou a mão.

Catarina não é necessariamente uma personagem simples de ser interpretada. É uma vilã, mas está longe de ser a principal força do mal que movimenta a trama. A personagem entrou no folhetim com a exclusiva função de criar conflito no casal de protagonista Edgar (Thiago Fragoso) e Laura (Marjorie Estiano). Dissimulada, Catarina precisa se mostrar uma mulher de atrativos, boa mãe e com ótima índole, pois quer reconquistar Edgar, todavia, mostra seu lado verdadeiro quando ele não está próximo. 

Alguns tons acima do que necessita, Negrini fez da personagem uma caricatura duma vilã clássica. Enquanto Constância se mostra uma mulher sem escrúpulos, mas inteiramente real, graças ao ótimo trabalho de Patrícia Pilar, Catarina não transmite nenhuma verdade. Ao contrário, suas ameaças, seus olhares maquiavélicos e suas juras de vingança contra Laura acabam soando muito mais como fonte de comédia do que propriamente ato de vilania.

É bem verdade que o texto não ajuda, mas o texto é complicado para o restante do elenco que tem feito um trabalho muito bom. Ocorre que Alessandra Negrini decidiu conduzir sua personagem de forma teatral - talvez pensando numa metáfora pelo fato de Catarina ser uma artista - e acabou ficando completamente fora de sintonia com o que se vê dos outros personagens. Desde a empostação vocal até a expressão facial, tudo é exagerado demais.

A impressão que se dá a cada momento em que Catarina entra em cena é que Alessandra Negrini não confia na didática do texto. Aparentemente a atriz precisa utilizar elementos primários de interpretação para se mostrar enquanto vilã. O texto não é suficiente para indicar o quanto ela é má, são necessários trejeitos exagerados, placas de aviso "sou má" estão estampadas no rosto da atriz em todas as cenas. Ela é uma boa atriz, mas dessa vez, Alessandra Negrini errou.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O que aprender com novelas fenômenos de audiência

A novela não vai acabar. O argumento de que a telenovela é ultrapassada e que, com as novas tecnologias o público procura por produtos dramatúrgicos menos extensos e muito mais imediatistas sempre volta para as discussões quando o maior produto artístico do país enfrenta uma crise de audiência ou quando a crise é de ordem criativa. Neste momento o Brasil enfrenta ambas.

Ignorando as produções do SBT e da Rede Record que não servem de parâmetro por não terem tradição e, portanto, não terem público fiel, ao analisar o clássico folhetim televisivo é preciso voltar os dois olhos para a Rede Globo e o que se vê neste momento é uma crise sem precedentes. Basta notar que as três novelas atuais estão, não apenas abaixo da meta, mas cada uma delas é a pior audiência histórica em seu respectivo horário. Grave, muito grave.

Não é de hoje que as telenovelas enfrentam crises de audiência. Esse fenômeno começou a ser mais sentido no início do milênio, principalmente no horário das 7. Em seguida o problema passou a atingir também o horário das 6 e, por fim, chegou ao principal deles, às 21 Horas. Tornou-se comum para uma novela sofrer para atingir a meta de audiência (o horário das 18 Horas tem meta de 25 pontos; o das 19 Horas a meta é de 30 pontos; e às 21 Horas precisa marcar 40 pontos), tão comum que quem produz, no caso a Rede Globo, precisa deixar de enxergar como fracasso e olhar para as novelas que atingiram a meta nos últimos anos, a resposta está ali.

Vamos separar 04 obras: No horário das 18 Horas o último grande fenômeno de audiência foi Cordel Encantado, depois dela nenhuma obra chegou sequer perto da meta. Às 19 Horas, após colecionar fracassos retumbantes e algumas poucas audiências aceitáveis, o último grande furacão de audiência foi a recém-terminada Cheias de Charme. No horário das 21 Horas o que se viu foi uma coleção infinita de fracassos impressionantes, mesmo fora da meta, duas novelas se destacaram por resgatar o público: Fina Estampa e Avenida Brasil.

Veja que são 04 novelas com autores diferentes, público-alvo diferente, estilo diferente. Nada as une, então como enxergá-las como ponto inicial para a busca do novo modelo de telenovelas que agrada o público? Parece óbvio, todas elas rasgaram a receita do folhetinesco que o Brasil se acostumou e, mesmo com os mesmos ingredientes, mudou a mistura do bolo e o telespectador adorou.

Cordel Encantado contou uma história das mais tradicionais, a mocinha e o mocinho que luta contra tudo e todos para ficarem juntos. Mas mudou todo o formato, misturou Reinos que pareciam heterogêneos e construiu um pano de fundo tão diferente que os ingredientes tradicionais passaram desapercebidos. E Cheias de Charme? A trama contou outra história tradicional, três mulheres de moral ilibada e que não são capazes de tudo para subir na vida, além de mostrar que o bem sempre supera o mal. Mas a novela contou com as novas mídias, com musicalidade e brincou com a interação, o público comprou a ideia. 

Fina Estampa foi uma paródia do que se viu nas últimas novelas das 21 Horas. Viver a Vida, Insensato Coração e Passione foram acusadas de serem remendos de outras novelas dos respectivos autores. Pois Aguinaldo Silva tratou de brincar com isso, zombou de seus próprios personagens icônicos, reescreveu suas cenas tradicionais em tom de brincadeira e o público enxergou a sátira e acompanhou por meses a fio esse jogo. Avenida Brasil contou das mais velhas histórias desde que existe romance no mundo: a vingança. Mas com um pano de fundo diferente, personagens dúbios e uma mocinha nem tão mocinha assim e uma vilã inescrupulosa, mas sofrida fez com que o público se encantasse e o país parasse para acompanhar a saga de Nina.

Ninguém quer descobrir a roda, muito menos este texto. Mas parece óbvio que o público brasileiro se cansou de seguir a receita de bolo das telenovelas. E tanto a emissora quanto os autores parecem não terem percebido isso. Glória Perez segue sua tradicionalíssima receita que, aliás aprendeu com Janete Clair, e fracassa de forma retumbante com Salve Jorge. Sílvio de Abreu reescreve uma novela dos anos 80 sem mudar nada e coloca no ar uma constrangedora Guerra dos Sexos e os novatos autores das 18 Horas criam uma trama sem linguagem para TV e veem o público fugir com Lado a Lado.

As telenovelas brasileiras não estão fadadas ao fracasso e muito menos destinadas a desaparecer. O que está claro, contudo, é que o jeito de escrever precisa mudar. O modelo precisa ser rasgado, as receitas precisam serem esquecidas e os ingredientes precisam ser misturados de uma forma diferente. Cordel Encantado, Cheias de Charme, Fina Estampa e Avenida Brasil ensinam isso: não inventem um novo bolo, só mudem o jeito de prepará-lo, ainda que com os mesmos ingredientes.

A Zona de Conforto atrapalha Ratinho

Cada profissional tem sua característica e é preciso respeitá-la. Em qualquer área de uma profissão quando o gestor percebe em seu corpo de funcionários o talento de cada um e, na medida do possível, consegue adequar a realidade do cotidiano da empresa para que seu funcionário consiga desenvolver o trabalho utilizando-se seu talento, as chances de sucesso são sempre maiores. Todos os modelos de empresas com gestão de pessoas trabalham assim nos dias atuais e vem obtendo sucesso.

Falar sobre gestão de pessoas num texto sobre TV pode parecer estranho e até ranhoso, mas não é. Principalmente porque este texto tem o objetivo de tentar desmistificar um pouco o que foi dito no primeiro parágrafo, sem contudo fugir das boas práticas da coerência. Não vamos contrariar a regra de gestão de pessoas, mas mostrar que, em alguns casos, ela acaba enrijecendo um trabalho.

Carlos Massa, o Ratinho, surgiu na TV na segunda metade da década de 90. Seu jeito despojado comandando o policial 190 da Rede CNT chamou a atenção das Redes Abertas e alavancou o jornalista a um status de estrela. Rapidamente, Ratinho se transformou numa celebridade, migrando-se para a TV Record, terceira colocada em audiência na época. Afastando-se dos programas policiais, o apresentador comandou uma espécie de programa de auditório, controverso, e cheio de polêmica. 

Assombrou a mídia e a crítica ao fazer de seu programa - considerado de péssimo nível por ter brigas, palavras de baixo calão - como o mais assistido da emissora e com picos de liderança, sempre que acabava a novela das 21 Horas da Globo. Um tempo depois, o apresentador levou seu jeito e o formato de seu programa para a emissora vice-líder de audiência, o SBT. Os primeiros anos foram de retumbante sucesso, atormentando, em audiência, inclusive novelas das 21 Horas.

Muitos anos se passaram e, no SBT, Ratinho enfrentou crises. Viu sua audiência cair vertiginosamente ao longo dos anos, acompanhou a crise da emissora e acabou na geladeira. Depois, mudou de formato, de horário, e sempre fracassou. Parecia fato que seu estilo havia sido apenas um desses fenômenos televisivos com prazo de validade.

Com a reformulação da emissora para tentar brigar novamente pela vice-liderança, o apresentador voltou a seu horário de origem, 21 Horas. Atualmente é a grande sensação do horário do nobre. Evidente que seu programa não atinge aqueles números impressionantes do início da carreira, mas a realidade da audiência é outra. Fato é que, disputando 90% do tempo com a novela das nove, Ratinho vem conseguindo se manter com média próxima aos dois dígitos e, ao final da novela, atingindo picos muito próximos da liderança. É a década de 90 voltando.

A produção do Programa do Ratinho conduz o programa de um jeito semelhante ao do começo. Porém, é preciso observar que o programa está muito mais politicamente correto, principalmente porque a TV brasileira enfrenta um momento de crise de ousadia, abaixando a cabeça para a censura embutida que a Justiça vem colocando nos últimos anos. O programa não é ruim, mas está longe de ser aquele programa despojado, corajoso e polêmico de outras épocas.

O que salva, inclusive, o formato é justamente seu apresentador. E aqui chegamos ao ponto em questão. Ratinho não é um jornalista investigativo que denuncia crimes, como no início da carreira em que, de cacetete nas mãos, fazia o papel de justiceiro na TV. Ele também não é o apresentador despojado de um programa controverso, papel que desempenhou por anos. Ratinho é a soma disso tudo, ele é um comunicador nato com domínio de palco, de microfone e de câmera como poucos na TV possuem.

Como dissemos no primeiro parágrafo deste texto, uma boa empresa é aquela que consegue enxergar o talento de seu funcionário e fazer com que ele exerça seu trabalho desempenhando seu talento. O SBT sabe o quanto Ratinho é polêmico e separou um horário especial e um programa assim para ele. Mas tanto o apresentador quanto a emissora se prenderam a isso. Ratinho poderia ir muito mais longe se a emissora e ele  próprio tivessem a compreensão de que é um comunicador importante, um dos melhores do cenário atual no país. Ratinho poderia facilmente reinventar a TV brasileira como fez no fim da década de 90, bastava para isso que saísse de sua zona de conforto e ousasse um pouco mais.

sábado, 24 de novembro de 2012

Carrossel e a simplicidade de um produto mercadológico

Relutei bastante para escrever um texto sobre Carrossel neste espaço novamente. Pelo simples fato de que parece bastante complexo analisar um fenômeno de audiência na proporção da novelinha produzida pelo SBT com a assinatura de Íris Abravanel. Uma rede de televisão que há muito tempo perdeu a tradição em produzir dramaturgia alcançar números de audiência e repercussão tão expressivos é um indicativo importante, mas não tão simples para se analisar.

Parece ser ponto pacífico que, do ponto de vista dramatúrgico, o remake da produção mexicana que parou o Brasil no início da década de 90, é o pior no ar entre as principais emissoras do Brasil. Enquanto arte, a produção peca em diversos elementos e oferece uma opção pobre de entretenimento quando se avalia exclusivamente a técnica dos elementos em cena. 

Cenário, iluminação e figurino são completamente equivocados e mostram um investimento  tímido num produto que vem gerando milhões de lucro para seus produtores. O elenco deixa a desejar, embora os responsáveis pelas crianças tenham conseguido, num espaço de tempo curto, torná-las bastante carismáticas em participações em outros programas, o que acaba conquistando o público, mas verdade seja dita, praticamente ninguém do elenco parece dominar a arte da interpretação. A direção de cena que consegue tirar o foco dos problemas acima citados e manter-se exclusivamente no roteiro mostra-se um grande acerto, assim como o texto de Íris Abravanel.

Aliás, o texto da autora é o grande mérito para o sucesso de Carrossel. Ela não escreve um roteiro brilhante e está muito longe de produzir grandes reflexões ou discussões acerca das crianças do mundo moderno neste início de milênio. Íris optou por um signo diferente: a simplicidade. O texto é quase pobre, não se importa em ser óbvio e ostensivamente didático, lembrando muito as produções da TV Cultura nos anos 90 e que fizeram bastante sucesso. Todo conflito na novelinha tem a mesma estrutura: a criança é colocada numa situação, reage de uma forma - os bonzinhos da forma correta e os pequenos vilões de forma equivocada - há o momento de tensão em que tudo parece dar errado, por fim tudo dá certo e, claro, há o texto com uma lição de moral explícita.

Enquanto arte, Carrossel não é uma maravilha, está muito longe disso, aliás, conseguindo, com sorte, ser medíocre. Porém, enquanto produto mercadológico - feito para vender para um público específico - a produção mostra-se acertada. A autora e o diretor não se envergonham em não produzirem algo profundo para as crianças que vivem conflitos muito mais complexos do que há 20 anos, eles copiaram o modelo de sucesso dos anos 80 e 90 e levaram as crianças de volta para a frente da TV. Assistir Carrossel não provoca absolutamente nada nas crianças, nenhum senso de conhecimento, é puro entretenimento didático.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Entrega na Arte da Interpretação

A arte de interpretar é muito mais de conhecimento técnico do que propriamente de talento. Em tempos em que a internet permite que todos prestem o desserviço em opinar sobre tudo com ares de crítica, é preciso saber separar um texto com análise crítica e um simples texto opinativo, quando o autor não tem domínio técnico para construir uma narrativa com elementos teóricos do assunto.

Mas este texto não se trata disso. O enfoque é na questão da pura entrega na arte de interpretação. Atualmente podemos destacar 03 trabalhos individuais que são unânimes: Patrícia Pilar vivendo Constância na novela das 18 Horas, Lado a Lado; Glória Pires que interpreta Roberta no horário das 19 Horas, com Guerra dos Sexos e Carolina Dieckmann, a pobre e sofredora Jéssica, da novela das 21 Horas, Salve Jorge.

Patrícia Pilar voltou ao ar numa cartada arriscada. Após viver a mais inescrupulosa e completa vilã da TV Brasileira - Flora em A Favorita - a atriz surgiu novamente no papel de uma vilã, um risco, pois as comparações seriam inevitáveis. Mas o fato é que a composição de Constância é completamente oposta ao de Flora e, por isso, as comparações ficaram para trás.

Glória Pires que raramente é vista em humor na TV se destaca em Guerra dos Sexos justamente por conseguir compôr uma personagem leve, divertida, mas totalmente humana. Numa produção cheia de equívocos, inclusive de interpretações em que o elenco não sabe se caminha para o caricato ou para o naturalista, a experiente atriz acerta o tom e mostra que domina o humor tanto quanto o drama.

Já Carolina Dieckmann mostra sua versatilidade novamente. A atriz - talentosíssima - é muito criticada, e com razão, porque escorrega quase sempre em equívocos na hora de escolher suas personagens, por vezes repetitivos e que não permitem com que ela se aprofunde em seu trabalho. Como Jéssica, a atriz mostra uma nova faceta, constrói uma personagem sofrida, uma típica mocinha que enfrenta todos os percalços da vida, mas nunca esmorece. E conseguiu a simpatia graças a sua composição aprofundada.

Poderíamos citar outros acertos da atual teledramaturgia brasileira. Marjorie Estiano brilhante - e talvez até melhor do que a própria Pilar - em Lado a Lado. Bianca Bin que vem melhorando bastante na trama das 19 Horas e até a composição minimalista, mas muito bem conduzida de Cláudia Raia em mais uma vilã. Há também alguns bons trabalhos de atores, mas não falaremos deles, pois não se faz necessários.

Algum crítico conseguiria encontrar defeitos no trabalho de interpretação das atrizes citadas? É improvável. Elas realizam um trabalho bem conduzido e maduro, convencendo o telespectador de seus dramas e suas realidades. O trabalho é competente, bem construído e o resultado é um banho de talento e domínio da arte de interpretar. Merecem os parabéns.

Porém, coloque-as lado a lado com Adriana Esteves e sua Carminha em Avenida Brasil. Este texto não quer e não vai comparar trabalhos, pois entende que a novela de João Emanuel Carneiro foi um acontecimento, mas que chegou ao fim no tempo correto. Porém, ao se pensar sobre a entrega na interpretação, torna-se impossível não citar, a partir de agora em qualquer texto, o que Adriana Esteves fez ao compôr a pérfida vilã da última novela que parou o Brasil.

Nenhuma das atrizes citadas errou a mão em seus papéis atuais. Mas qualquer - repito, qualquer - trabalho que vemos na televisão brasileira no momento, não chega aos pés do que fez Adriana Esteves. Ela também mostrou domínio da arte, conhecimento técnico e elementos que todas as atrizes profissionais e com talento e disposição para estudar possuem. Mas Adriana Esteves saiu do lugar-comum, ela foi além, ela não emprestou apenas seu rosto, sua voz e sua postura para Carminha, ela emprestou sua alma, sua própria vida.

A entrega na Arte da Interpretação no nível que Esteves se expôs é tão rara - ou mais - quanto o fenômeno de repercussão que foi Avenida Brasil. Poucas vezes a TV brasileira viu uma atriz - ou mesmo um ator -disposto a se despir de todas as suas características, sejam físicas ou emocionais, e se entregarem de corpo e alma para uma personagem. A interpretação dela feria os seus músculos, era como um açoite para o seu físico, mas a atriz queria ultrapassar a linha do talento e da boa profissional e atingir novos limites na arte de interpretar.

Agora, a grande questão, é que voltamos ao momento em que temos elenco competente na TV brasileira. Temos personagens importantes, marcantes e muito bem defendidos por atores e atrizes, mas a alma, o âmago de uma personagem não temos mais. Adriana Esteves foi um furacão, infelizmente, é raro este tipo de fenômeno acontecer.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Salve Jorge tem boa receita, mas ingrediente estragado

Quando se é profissional de qualquer área sabe-se que é preciso evitar os vícios. A maturidade profissional somente chega conforme vamos trabalhando. É o tempo que provoca isso, porém, ele também traz uma série de vícios e atalhos que quase sempre precisam ser enxergados antes de se produzir novamente, a fim de que o novo trabalho não saia prejudicado.

Criar receitas e modelos pode ser uma boa saída para evitar fracassos, principalmente num universo como o da TV brasileira em que o telespectador ainda é tão tradicional. Porém, é preciso saber o momento exato de inserir cada um dos ingredientes dessa receita, caso contrário, o prato que outrora foi muito elogiado, pode acabar sendo alvo de críticas justas simplesmente porque um ingrediente foi colocado no momento equivocado.

Foi o que se viu na atual novela das 21 Horas, um ingrediente estragado. Fato é que, por si só, o que foi ao ar até agora mostra que Salve Jorge não é uma novela ruim, longe disso. Glória Perez parece ter pesquisado bastante todos os temas antes de decidir colocá-los como núcleos de sua obra, pois todas as histórias são bem completas e redondas.

Enquanto o amor inocente e excessivamente meloso do casal de protagonistas faz fãs e haters pelo Brasil, enquanto a história dos policiais em trabalho de pacificação da favela, enquanto a história da própria favela, enquanto o núcleo um tanto quanto cômico da família que disputa uma herança, enquanto todas estas histórias tem momentos agradáveis e interessantes, rouba a cena o núcleo forte e muito bem desenvolvido do tráfico de mulheres.

Este é, sem dúvida, o maior acerto da autora neste roteiro - e um dos melhores que ela já desenvolveu ao longo dos anos. A força dessa história faz com que tudo gire em torno dela. Ainda que seja um núcleo que ainda não se aproximou dos protagonistas - mas sabe-se que vai - acabou roubando a cena por ser muito mais forte, denso e interessante, do ponto de vista artístico.

Por outro lado, Glória Perez é o melhor exemplo de criadora de receitas. Desde que entrou para o time de autores das 21 Horas ela mantém um formato em seus roteiros. Sempre fazendo um paralelo entre o Brasil e um país com cultura completamente diferente, ela conseguiu atrair a atenção do telespectador com isso e formar sua marca para fazer novelas. E sempre funcionou porque sempre foi bem amarrado com o roteiro. Até agora.

Em O Clone a protagonista Jade (Giovana Antonelli) era muçulmana, ou seja, mostrar a cultura daquele povo era parte primordial do roteiro. Em América, o sonho de Sol (Débora Secco) era o de muitos brasileiros da época, deixar o Brasil e construir uma vida no exterior com oportunidades melhores. Ou seja, a história da protagonista era entrar na América e mostrar a cultura, os percalços e caminhos fazia todo sentido. Em Caminho das Índias Maya (Juliana Paes) era indiana, portanto, tal qual na primeira novela, era necessário mostrar a cultura da Índia.

E Istambul serve para que em Salve Jorge? A protagonista Morena (Nanda Costa) foi inserida no núcleo da favela, o protagonista Théo (Rodrigo Lombardi) é policial, também brasileiro. Não há a menor necessidade de se mostrar a cultura do povo de Isambul na novela. Você pode justificar que a boate de Lívia (Cláudia Raia) com as mulheres traficadas irá se alojar, como já está ocorrendo, naquele local, mas e daí? Nas 04 primeiras semanas da novela, a boate foi em Madrid, nem por isso houve necessidade de se inserir personagens espanhóis e mostrar as tradições daquele país.

Ainda que, em algum momento, as personagens que residem em Istambul acabem se interligando de alguma forma com a protagonista - o que parece improvável - não há razão de existir este núcleo. Bastava inserir as personagens no momento em que eles fossem fundamentais para fazer a história caminhar. Até o momento, o local funciona como um núcleo solto, uma espécie de merchan turístico que não tem nenhuma ligação com o restante da novela.

Glória Perez criou uma receita e seus bolos sempre deram bons resultados. Ela foi tentando manter a fórmula a cada novo trabalho e, ao menos a tentativa de inserir uma nova cultura para o telespectador brasileiro, funcionava e, sempre em algum momento, essa nova cultura virava febre. 

Em Salve Jorge a receita foi mantida, mas, ao deixar personagens secundários e sem nenhum vínculo com o núcleo principal, a história de uma nova cultura não faz o menor sentido. Soa desinteressante ouvir os bordões, ver as danças e conhecer a história de Istambul. Dessa vez, o ingrediente estava estragado e vem prejudicando toda a receita. 

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