Atualmente temos assistido não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, produções tão grandiosas nas TVs que, em determinados momentos, elas chegam a se afastar do estilo teledramaturgia e se aproximam muito mais do cinema. O cuidado com cada detalhe antes de levar um produto ao ar tem sido tão grande que praticamente nada escapa aos olhos do produtor.
Exemplos não faltam. Nos EUA acompanhamos a impecável primeira temporada de Game of Thrones, certamente a produção mais cuidadosa do ano. Cada detalhe é pensado, desde o figurino, passando pela fotografia até a cenografia. Tudo meticulosamente bem posicionado. Em produções assim, não há corpo estranho em cena, uma coisa completa outra. Como no Brasil, a atual novela das 18 horas, Cordel Encantado, de longe, a mais grandiosa produção das telenovelas brasileiras em que é possível admirar os pequenos detalhes.
O público agradece, afinal, quanto melhor a produção, a tendência é que melhor seja o resultado. Porém, em alguns momentos, as emissoras estão pensando mais no detalhe em si do que no próprio produto. Game of Thrones segue como exemplo, já Cordel Encantado não, pois tudo ali funciona. A grandiosidade de uma produção não pode se derreter diante de um roteiro fragilizado, afinal, os detalhes servem para melhorar a estrutura que é do roteiro e não o inverso. Quando a estrada é no sentido oposto, a tendência é uma obra grande, mas sem vida.
Um exemplo clássico de que é o roteiro quem dá vida à obra foi visto na noite de ontem. O quarto episódio da primeira temporada de A Mulher Invisível deu um banho de roteiro competente, bem estruturado e cheio de nuances importantes. Ainda que a obra em si seja simples, sem nada que chame a atenção, o episódio de ontem foi muito mais rico que muitas dessas produções cuidadosas - e aqui, é bom que se faça uma ressalva, Cordel Encantado segue como exceção, pois também tem um roteiro brilhante.
A Mulher Invisível trata temas complexos, quase didáticos no campo da psicanálise, de uma forma tão simples e popular que chama a atenção de qualquer pessoa. Não foi apenas um episódio de humor em que o telespectador ria por rir, a identificação entre público e personagem, público e situação e público e roteiro foi tão grande que se tornou imprescindível acompanhar cada minuto deste episódio.
Quando o roteiro é rico e sabe conduzir o fio da narrativa de forma com que seu público-alvo consiga acompanhar a história e se envolver, não há erro, o sucesso chega fácil. A Mulher Invisível provou que, nem sempre é preciso pensar nos detalhes, mas sempre deve-se pensar no roteiro.