Se há algo nesta vida em que gosto de me gabar é de minha boa memória seletiva. Quando existe alguma ocasião que me interessa, certamente vou lembrar de todos os detalhes dessa ocasião por anos e anos e sempre com o mesmo frescor, como se houvesse acontecido recentemente. E, graças a este adjetivo, lembro-me com clareza do dia em que estava em minha casa assistindo TV e fui apresentado ao primeiro teaser de lançamento da novela das 21 horas que substituiria Duas Caras.
A ideia extraordinária da produção para divulgar o folhetim me chamou tanto a atenção que foi ali que A Favorita me ganhou. Daquele momento em diante decidi que acompanharia a trama e, ao pesquisar sobre ela, descobri tratar de uma obra assinada por um novato no horário, mas que já havia me conquistado com seu trabalho anterior, Cobras e Lagartos. Mesmo assim, fiquei surpreso ao notar que João Emanuel Carneiro, tão recente como autor titular, já assumia o principal horário de telenovelas da tradicional Rede Globo.
Mas bastou a novela estrear e qualquer temor foi dissipado rapidamente. Um dos primeiro capítulos mais diferentes e mais atraentes que o mundo da teledramaturgia já viu marcou o tom daquele 02 de Junho de 2008. É bem verdade que houve preocupação com a audiência, visto que a Rede Record estava apostando alto na saga Os Mutantes e, levou ao ar o último capítulo de Caminhos do Coração no mesmo dia e horário.
Mesmo sendo exibida numa das piores - senão na pior - fase da emissora, momento em que todos os produtos do horário nobre da emissora passavam por uma crise sem precedentes, A Favorita transformou-se rapidamente na única tábua de salvação do horário nobre da emissora. Recebendo em baixa das faixas anteriores que exibiam novelas fracassadas, a trama de João Emanuel Carneiro foi conquistando o público e terminou com média geral de 40 pontos, última do horário a atingir este número.
Muito diferente de tudo que se viu, a novela mudou o formato das telenovelas, ao não apresentar mocinha ou vilã na primeira fase e, após a revelação de que Flora (Patrícia Pilar) era a grande vilã, passou a apostar nos acontecimentos, A Favorita foi a primeira novela brasileira sem barriga, o que chamou a atenção de todos na época. A história envolvente, empolgantes e que parou o país para acompanhar as maldades de Flora e a luta de Donatela (Cláudia Raia) para provar sua inocência, transformou-se nos meses em que estava em exibição numa novela impecável. E, hoje, três anos após sua estréia, não foi ao ar nada que superasse a qualidade ali vista. Se, enquanto era exibida, A Favorita era elogiada, hoje, ela faz parte do hall de preciosidades da dramaturgia nacional.
Veja um dos momentos épicos da novela: