sábado, 19 de junho de 2010

Ribeirão do Tempo não empolga

Mais de um mês após a aguardada estréia da novela mais cara da história da Rede Record, Ribeirão do Tempo segue com números abaixo do esperado e, pior do que isso, segue como uma produção muito aquém do imaginado por todos - crítica e público - e, ao que parece, não empolga ninguém e nem dá sinais de que irá empolgar.

Assinada pelo ótimo autor Marcílio Moraes, a trama foi divulgada com muita pompa pela cúpula da emissora que esperava excelente resultado, já que o investimento é alto em toda a produção e a divulgação foi a mais pesada já realizada pela teledramaturgia da Barra Funda. Marcílio Moraes escreveu outros sucessos na casa, e principalmente por ser responsável pela novela Essas Mulheres, uma das melhores da nova fase da emissora, a expectativa era grande em torno dele que prometia um novelão clássico.

Os elementos de folhetim tradicional estão todos lá. O autor tentou resgatar o estilo de novelas dos anos 80, como toda a crítica já observou, porém, isso fez com que a trama perdesse toda a identificação de estilo tanto de Marcílio como das novelas da Record e, obviamente, o resultado foi um estranhamento do público que passou a rejeitar o trabalho.

Não é propriamente um equívoco quando um autor tenta inovar, fugindo um pouco do estilo e da tradição, porém, para que isso não cause um estrago grande, é preciso que a novidade ofereça qualidade ao telespectador, e Ribeirão do Tempo não tem praticamente nenhum motivo de elogio. Roteiro fraco, diálogos em sua maioria infantis ou despropositados e, principalmente, situações forçadas para tentar fazer o público rir e que não tem graça alguma, são a toada.

O elenco que começou mal, continua ruim e, aparentemente, neste caso, não há mais solução, pois não é um momento ruim de interpretação, são composições muito aquém daquilo que os personagens pedem e, com isso, o público passa a notar a superficialidade nas interpretações, não tendo absolutamente nada de real nos diálogos e nas situações, também por conta de um elenco fraco.

Marcílio Moraes é um autor experiente que sabe lidar com o sucesso e com o fracasso, certamente tentará mudar o foco e melhorar os índices de audiência. Porém, com um fio condutor tão fraco como a que tem Ribeirão do Tempo, é difícil haver melhora na qualidade do produto. Pena.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Copa na TV Aberta é muito divertida

Assistir a Copa do Mundo de 2010 na TV aberta é uma das atividades mais divertidas atualmente para qualquer cidadão brasileira. Com os direitos adquiridos, a Globo divide a transmissão do principal evento de futebol do planeta com a Band e, ambas, prometem transmitir 56 jogos dos 64 de toda a competição. Os outros 8 serão mostrados em VT, já que não poderão ir ao ar ao vivo porque ocorrerão simultaneamente.

Para tamanha cobertura, ambas as emissoras mandaram para a África um enorme contingente de profissionais e levar - ou tentar - ao telespectador a melhor transmissão possível. Ficou só na tentativa, ao menos no que concerne às transmissões dos jogos em si. Nesta primeira semana de Copa o que se viu de narrador e comentarista falando de bobagem já dá para escrever um livro.

Não há o que questionar sobre a competência dos profissionais envolvidos, principalmente quando o assunto é futebol brasileiro. Band e Globo sabem levar ao público boas narrações dos jogos no país de Campeonato Brasileiro e torneios regionais. Porém, quando o assunto é futebol internacional, não há o mesmo grau de conhecimento e, aparentemente, não há também muita vontade em aprender.

Os principais erros ocorrem principalmente na pronúncia dos nomes dos jogadores de outros países. Ao telespectador mediano, isso provavelmente passa despercebido, porém, para os que acompanham o futebol internacional, dói muito no ouvido ter de escutar profissionais de TV inventando métodos para falar os nomes dos jogadores. Outro problema, este mais grave, ocorre na narrativa e comentário das seleções em si. Equívocos assombrosos e que demonstram grande desconhecimento dos times, dos jogadores e falta de acompanhamento histórico sobre disposição tática desta seleções, acontecem durante praticamente todos os jogos.

Nisso não há discussão. A TV Fechada dá um show na comparação. A ESPN Brasil vem realizando uma cobertura invejável da Copa na África. Os profissionais da emissora já são absolutamente bons naquilo que fazem, mas conseguem extrair do telespectador o que há de melhor nas transmissões da partida, dando gosto de assistir um jogo na emissora. Com menos qualidade, mas também muito melhor que a TV aberta, o SPORTV é a outra emissora a transmitir os jogos pela TV Fechada.

Aos que têm TV Fechada a dica é justamente acompanhar ou pela ESPN ou pelo SPORTV. Aos que não tem, a solução é se divertir com os escorregões nas transmissões.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Globo acerta, mas erra muito em Na Forma da Lei

Estreou nesta terça-feira na Rede Globo, a nova série da emissora e uma das mais aguardadas desta nova leva. Na Forma da Lei, desde que foi anunciada chamou a atenção da crítica e também do público por aparentar um diferencial no modelo do formato brasileiro e porque dava a entender que poderia vir um bom roteiro aliado a uma boa produção.

O episódio piloto mostrou que, de fato, isso acontece. Mas há ressalvas, e sérias ressalvas. Assinada por Antônio Calmon conta a história de Eduardo (Thiago Fragoso) que é covardemente assassinado e o culpado, filho de um político influente, permanece impune. Os cinco amigos do rapaz, que presenciam o homicídio, querem fazer justiça, ainda que tardia. A promotora Ana Beatriz Tavares de Macedo (Ana Paula Arósio), o juiz Célio Rocha (Leonardo Machado), o advogado Edgar Mourão (Henri Castelli), a delegada Gabriela Guerreiro (Luana Piovani) e o jornalista Ademir Rodrigues (Samuel de Assis) se reencontram anos depois e acreditam que ainda podem fazer Maurício (Márcio Garcia) pagar pelo crime que cometeu.

A premissa da série é muito interessante e foi isto que chamou a atenção de todos que voltaram os olhos para o primeiro episódio que registrou os mesmos 18 pontos de média que sua antecessora, Força-Tarefa, vinha registrando. O decorrer do episódio teve como função principal apresentar a história, mostrar os personagens e suas facetas, mas principalmente, dar um ritmo de seriado para a atração, orientando sempre o público que sentia-se diante da tela, como se visse uma série policial americana.

Evidente que isso foi proposital por parte da equipe. Antônio Calmon criou um argumento e transformou-o num roteiro completamente americanizado de se produzir séries. Wolf Maya percebeu isso e deu o enfoque da direção também caminhando para o modelo das séries norte-americanas que fizeram sucesso ao longo da década, principalmente as policiais como CSI e 24 Horas. Todos os elementos do formato estavam ali para quem quisesse ver e nem precisava ser muito atento.

Num momento em que a telenovela demonstra certo desgaste e o telespectador clama por novos modelos de dramaturgia na TV brasileira, a ideia foi muito interessante, porém, ao fim do Pilot (evidente que chamo o episódio assim como brincadeira em alusão a todos os títulos de episódios de estreia nos EUA), a sensação era de que houve exagero. Quem viu Na Forma da Lei não viu uma série brasileira buscando elementos americanos na forma de se fazer televisão, viu uma série brasileira americanizada, o que foi um problema, e grave.

Preocupa também os diálogos. Antônio Calmon soube criar com maestria situações e deu um ritmo invejável a este episódio inicial, porém, em praticamente todas as cenas os diálogos eram cheios de frases clichês e lugares-comuns que incomodam o telespectador mais atento. Falas como: "Não acredito que vou fazer justiça" e "Será que vamos conseguir?" são extremamente dispensáveis num modelo de texto que se propõe em ditar um ritmo forte e situações que prendam a atenção. Esse é um problema que Calmon apresenta em seus últimos trabalhos como todos viram em Três Irmãs, Começar de Novo e O Beijo do Vampiro.

Entre todos os problemas do primeiro episódio, o mais grave em Na Forma da Lei se dá na composição do elenco. Praticamente todos os protagonistas que deveriam segurar a série não mostraram a que veio. Não são apenas interpretações fracas ou equivocadas, são composições de personagens que deixou a impressão de que não haverá melhora ao longo da série. 

Luana Piovani estava absolutamente canastrona em todas as suas cenas, foi entre todos, a que mais deu constrangimento no público. Henri Casteli também canastrão, deu mostra de falta de conhecimento ao compôr seu personagem e ainda tenta encontrar o tom, que certamente não será encontrado. Samuel de Assis foi extremamente discreto e discrição é tudo que não se espera de um protagonista. Leonardo Machado também está mal, lento e com um personagem arrastado que joga os textos como se fossem apenas frases lançadas ao vento. Entre os protagonistas há duas exceções. Márcio Garcia, em um belo papel, e que aparentemente compôs seu personagem muito bem, andando com calma e paciência na tênue linha de seu personagem que caminha entre o criminoso e o sociopata, difícil composição, mas ele deu conta do recado. Ana Paula Arósio, porém, foi a dona do episódio. Firme, fugindo do maniqueísmo que muitos buscam, a atriz mostra maturidade na profissão e acerta em tudo, no olhar, no andar, mas principalmente na empostação vocal.

Em resumo, o episódio piloto de Na Forma da Lei, nos apresentou uma série interessante, com um argumento fascinante e um roteiro acima da média, mas que apresenta tantos problemas e falhas arraigados no cerne da produção que torna difícil acreditar na possibilidade de uma melhora e grande destaque nos próximos episódios. Ao que parece, temos uma grande ideia desperdiçada.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Passione é muito mais do que a gente pensava

Já se foram 04 semanas de exibição, 24 capítulos e, portanto, já está mais do que na hora escrever sobre as impressões iniciais da nova novela da Rede Globo, Passione. Com a assinatura daquele que, em minha opinião, é o maior autor de telenovelas vivo no Brasil, Sílvio de Abreu, a novela veio sob uma onda de grande ansiedade, principalmente após o fiasco da antecessora Viver a Vida.

A primeira análise a ser feita se refere aos números de audiência conseguidos pelo folhetim. O pior desempenho de uma novela das 9 da Globo em seu primeiro mês de exibição fez com que parte da mídia e dos próprios telespectadores que acompanham a história, começassem a procurar os famosos "defeitos" que levaram a rejeição do público em geral. Ocorre que, a bem da verdade, Passione segue o mesmo modelo de novelas do horário em praticamente toda a década. Se analisarmos novela após novela vamos verificar que praticamente todas as tramas estrearam derrubando a audiência em média de 07 a 10 pontos da antecessora. O efeito se repetiu, porém, como Viver a Vida teve a pior audiência da história do horário, ao perder ainda mais pontos, a novela de Sílvio de Abreu ficou sem situação delicada. Mas o processo de reversão já se iniciou na última semana com o melhor desempenho desde a estreia.

Deixando a audiência de lado e analisando exclusivamente a produção, percebe-se que Passione supera as expectativas dos fãs de folhetim. Com uma história central forte e envolvente, os acontecimentos prendem os telespectadores desde o primeiro momento. O eixo central não é propriamente novidade, já foi muito explorado, mas a forma como vem sendo contada, torna a história muito atraente e os ganchos chamam a atenção do público.

Outro ponto positivo para a novela se dá na construção de tramas paralelas. As últimas novelas do horário sempre apresentaram tramas paralelas fracas ou sem função, porém, Sílvio de Abreu resgatou a diversidade de tramas e núcleos que, apesar de independentes, se interligam de alguma forma. Isso é novela. E é preciso observar que boa parte destas tramas ainda está engatinhando, com a história propriamente dita sendo preparada, mas já deu para notar que o autor tem tudo na mente e o público já começou a se identificar com diversos personagens, como a sofrida e apaixonada Fátima (Bianca Bin).

Mais um ponto positivo em Passione ocorre na formação de elenco. Ao anunciar o cast da novela, todos já sabiam que seria uma trama rica em interpretação, mas novamente aqui as expectativas estão sendo superadas. Praticamente não há equívocos ou má composições, a maioria esmagadora do elenco vem dando conta do recado com maestria. Destaques? Inúmeros. Tony Ramos mais uma vez compondo muito bem um patriarca bondoso e cheio de fibra, Irene Ravache repetindo o brilhantismo num núcleo cômico, como já havia ocorrido em Belíssima, Vera Holtz numa personagem diferente de tudo que ela já interpretou, e dando muita qualidade a sua Candê. Mas os três principais destaques são Mariana Ximenes em sua primeira vilã e vem dando banho de interpretação na maioria das cenas, Fernanda Montenegro que dispensa comentários e em cada cena que exige fibra ela mostra o motivo de ser a melhor atriz do Brasil, porém, o principal nome de Passione até o momento é Aracy Balabanian, num trabalho impecável, emocionante e genial ao interpretar Gema, uma personagem complexa e que ela produz com uma qualidade ímpar.

Os pontos negativos na formação de elenco são principalmente dois. Um evidente e uma surpresa. Reinaldo Gianecchini regrediu bastante após alguns trabalhos de qualidade na TV e simplesmente não consegue compôr seu vilão Fred. Em cenas comuns e até de dissimulação ele vai bem, mas quando traços de vilania precisam aparecer, o ator começa a gritar e mostrar os mesmos trejeitos e entonação de Pascoal, seu personagem em Belíssima. Um problema a se resolver. O outro ponto negativo é realmente surpreendente, após anos de trabalho competente e até acima da média, Bruno Gagliasso vai mal na novela. Ao compôr o italiano Berillo, o ator deixa traços fortes do último personagem, Tarso, e não consegue se desprender formando uma nova pessoa. Pena.

Em resumo, Passione apresenta-nos um folhetim típico, com uma história envolvente e o cuidado que apenas Sílvio de Abreu é capaz. Após tramas muito ruins como Caminho das Índias e a horrenda Viver a Vida, Passione surge como um oásis, pois, até o momento, nos apresentou o melhor início de novela das 9 da década. 

Este texto também estará disponível no site Famosidades, do Grupo MSN Entretenimentos.

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