domingo, 11 de julho de 2010

A diferença entre exploração e jornalismo

E mais uma tragédia acontece no Brasil, desta vez um crime hediondo cometido por uma pessoa pública e com repercussão diária na mídia nacional e, em alguns momentos também internacional devido a crueldade com que houve o assassinato da ex-amante do goleiro Bruno, jogador do Flamengo.

Não cabe a este espaço discutir ou colocar em pauta a gravidade do crime ou o grau de culpabilidade e envolvimento dos envolvidos, principalmente de Bruno, única pessoa pública envolvida no caso. Para isto existe a mídia especializada e todos os milhares de veículos de imprensa que estão cobrindo o caso e permitindo novidades instantâneas para todos.

Porém, como em todo e qualquer caso de grande repercussão na imprensa, este não é diferente, todas as emissoras de televisão realizando exaustivas coberturas, mostrando diversos ângulos do caso e, todas - sem exceção - tentando de alguma forma conseguir exclusividade sob algum aspecto ainda não explorado por seus concorrentes. Isto é fazer jornalismo, é o que se aprende quando se estuda, é a tentativa de inovar e levar ao público informações variadas para que, ele - o telespectador - possa ter condições de refletir sobre o assunto.

Ocorre que a linha é muito tênue, muito mesmo. O jornalismo e a exploração de miséria humana caminham quase de mãos dadas numa situação e é preciso mais do que simplesmente profissionalismo e experiência na área para não ultrapassar os pontos, se esquecendo dos limites e acabar por produzir algo de qualidade duvidosa e que não acrescenta em nada para o telespectador, afinal, é exclusivamente para ele que a mídia produz, certo?

Nesses últimos dias tudo o que se vê na TV durante boa parte do dia é fruto do trabalho jornalístico de diversas pessoas que colhem informações a respeito do caso. Trabalho sério, bem pesquisado e de bom tom tem sido feito, principalmente pela Rede Globo, cuja cobertura nunca ultrapassou o limite do bom gosto, nunca entrou no achismo ou no julgamento precipitado e também nunca explorou o caso exageradamente simplesmente em busca de audiência. Os jornalísticos da emissora, certamente seguindo o Padrão Globo de Qualidade, sabem dar o tom correto, a seriedade necessária que o caso exige, mas em nenhum momento o público se sente invadido ou cansado. Informações apenas necessárias.

Outros jornalísticos estão realizando coberturas sérias e que não ofendem os olhos do público. É o caso do Jornal da Record que em outros momentos e outros casos não soube conduzir as reportagens, desta vez vem realizando um excelente papel de informar o telespectador e merece os parabéns por isso. O Jornal do SBT também realiza um papel interessante neste momento do jornalismo brasileiro, como sempre o faz, aliás, graças ao competente trabalho de Carlos Nascimento.

Em contrapartida os jornalísticos populares estão completamente perdidos - como sempre. Brasil Urgente com José Luis Datena vem realizando um trabalho vergonhoso e que dá nojo a qualquer profissional de imprensa no país. Conclusões precipitadas, entrevistas com pessoas que não sabem nada sobre o caso e lançando perfis dos criminosos feitos por pessoas incompetentes. E isto se repete com o mesmo formato da Record, que aliás, até fugiu o nome de tão ruim que é.

Mas me chamou a atenção um programa em especial. Conexão Repórter, do SBT, com o excelente jornalista investigativo Cabrini que sempre faz ótimos trabalho errou a mão. Na última semana foi ao ar ao vivo e cheio de informações exclusivas e completamente irrelevantes para a história. O momento ápice de exploração exagerada e pouco jornalismo foi a entrevista emocionada que o pai da vítima deu ao vivo ao jornalista. Tudo orquestrado para dar audiência, emocionar o público e, a despeito de tudo isto, não houve acréscimo a nada que todos já sabiam, ou seja, pura apelação. O caminho não é este, não mesmo.

2 Quebraram tudo:

Lucas Santos disse...

Eu tiro o chapeu para a Record.
É a única emissora que está tratando do caso do estupro da menina de 13 anos em Santa Catarina; supostamente cometido por um filho de chefe de polícia e um herdeiro do conglomerado midiático RBS.

Parabéns à Record! Fazendo jornalismo honesto está ganhando a audiência das pessoas preocupadas com a honestidade no jornalismo.

Gabriel Borba disse...

Muito bom o teu post. Tanto que não cabe comentários.
No entanto, quero comentar o comentário (sem redundância) do colega Lucas.
Lucas, concordo contigo que a Record FEZ bem em noticiar o fato que, ao que parece, vinha sendo "deixado de lado" pela RBS (retransmissora da Globo para SC e RS). Grafei o FEZ por que FEZ, no passado.
Para que tu entendas que não estou defendendo A ou B, vou usar o título do post do Daniel: "A diferença entre exploração e jornalismo".
O que a Record fez em um primeiro momento foi jornalismo, embora tenham tropeçado no ECA ao dar informações sobre as famílias dos envolvidos, mas... informou, mostrou o caso, enfim.
Ocorre que, depois, virou bandalha.
Não sei se tu és aqui do Sul, mas vou te dizer o que está ocorrendo aqui: a Record tem três telejornais locais; os três jornais noticiam DIARIAMENTE alguma coisa sobre o caso e, na maioria das vezes, repetem a reportagem NA ÍNTEGRA já veiculada no jornal anterior ou pior, no próprio jornal do dia anterior.
Acho que aí erraram! Criaram uma nova Isabela Nardoni. Não é necessário. Acompanhem o caso. Querem noticiar diariamente ok, mas não precisa mostrar um resumo da notícia com cinco, seis minutos TODOS OS DIAS.
Espero que estejas lendo meu comentário com muita atenção, pois NÃO ESTOU DEFENDENDO OS PÁRIAS QUE FIZERAM ESTA BARBARIDADE COM A MENINA, somente estou dizendo que não é assim que se acompanha um caso jornalisticamente.
Para arrematar, quero concordar contigo: tirei o chapéu pra Record, pena que deu frio na cabeça.
Um abraço.

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